segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Redesenhando a rota Brasil-Europa

Já se passou o tempo em que rumar para a Europa era garantia de sucesso na carreira de um jogador.

Sim, nossas jovens promessas e estrelas do futebol continuam rumando para o velho continente com extrema facilidade, seduzidos pelos euros, pela fama e pela possibilidade de atuar em algumas das maiores equipes do mundo. Entretanto, é possível notar um perfil diferente do jogador brasileiro no exterior.

Após alguns anos atuando por lá, com ou sem muito sucesso, grandes nomes de nosso país optam por retornar a sua pátria mãe para atuar em nossos clubes. O resultado disso são campeonatos nacionais mais charmosos para os torcedores que se sentem motivados a freqüentar estádios e comprar produtos de seus clubes em função desses grandes nomes que retornam.

Financeiramente continua sendo muito mais satisfatório mudar-se para clubes estrangeiros, pois até os menores clubes europeus são capazes de bancar salários maiores dos que os tupiniquins.

Porém, mesmo sem poder proporcionar os mesmos vencimentos e sem ter as mesmas riquezas que eles, os times brasileiros estão conseguindo fazer frente aos maiores clubes do mundo, trazendo seus frutos para casa e, às vezes, até negando boas propostas para manter os atletas em seus elencos.


Exemplos dessa postura estão aparecendo dia após dia nos noticiários. O primeiro grande nome a anunciar seu retorno ao Brasil foi Ronaldo. Em 2009 o Corinthians tinha um projeto ambicioso, visando montar um elenco acima da média para brigar por títulos e para voltar a competir uma Libertadores da América. Já Ronaldo estava em queda na Europa, não era mais o mesmo de anos anteriores e beirava ao ostracismo no Milan, da Itália.

Com a proposta de jogar no Brasil, Ronaldo não só viu uma possibilidade de ser admirado e respeitado pelos torcedores brasileiros, que se acostumaram a vê-lo apenas pela televisão, como também viu um plano de marketing em torno de seu nome que beneficiaria tanto o jogador quanto o clube.

O resultado não poderia ser melhor: Ronaldo voltou, foi endeusado por torcedores e pela mídia, multiplicou o faturamento do Timão e ainda ajudou o clube, com sua técnica acima da média (apesar da péssima forma física), a conquistar Campeonato Paulista e Copa do Brasil.

Após isso outras estrelas, que já não estavam mais nos auges de suas carreiras, vislumbraram o retorno ao país com outros olhos, e, como o futebol brasileiro esta em um nível técnico muito inferior se comparado às grandes ligas européias, esses atletas conseguiriam se destacar mesmo que já não fossem mais os mesmos que eram antes.

Com isso, a lista foi engrossando. Após Ronaldo voltaram também Roberto Carlos, que, em fase final da carreira, jogava na fraca liga turca, Ricardo Oliveira, que passou muitos anos atuando em clubes meramente medianos da Espanha, Fred, que cansou de ganhar títulos nacionais pelo Lyon da França sem ter com isso a possibilidade de ganhar algum troféu internacional mais almejado, e Robinho, que foi emprestado por seis meses para ser um dos lideres da fantástica equipe do Santos do primeiro semestre de 2010, conquistando Paulista, Copa do Brasil e deixando o país inteiro fascinado com um futebol ofensivo e goleador que o clube formou.


Com o sucesso conseguido por esses jogadores, a maioria com passagens marcantes pela seleção brasileira, tornou-se mais fácil repatriar outros jogadores. Elano assinou sua volta ao clube formador, o Santos, para reconquistar o espaço perdido na seleção canarinha após a Copa do Mundo.

É verdade que ele foi um dos poucos nomes da esquadra formada por Dunga que escapou das vaias e da fúria imposta por torcedores e jornalistas após a desclassificação contra a Holanda. Mesmo assim Elano não foi mais convocado, muito em função da nova proposta da CBF e do novo técnico, Mano Menezes, de renovar a seleção e dar prioridade para jogadores novos, muitos ainda em idade olímpica.

Voltando ao Santos, Elano espera repetir o sucesso conquistado por Robinho e ganhar visibilidade na mídia para voltar a defender a seleção.

Além dele, ainda existe a chance de repatriar duas estrelas com passagem pela seleção. Adriano esteve em pauta durante muito tempo. Com poucas e fracas atuações na Roma, da Itália, muitos clubes nacionais tentaram conquistá-lo.

Quando esteve no Brasil, jogando pelo São Paulo e Flamengo, Adriano teve boas atuações e atingiu ótimas médias de gols. Voltando para a Itália, foi vendido para o clube romano, onde ainda não teve muitas alegrias. Esteve muito tempo fora de forma e em alguns momentos entrou em atrito com o técnico Claudio Ranieri.

Tudo isso encheu Corinthians e Flamengo de esperanças. Porém, ao ver que existia a possibilidade de que Adriano fosse embora, a Roma fez com que ele ganhasse mais oportunidades e jogasse mais vezes, esfriando as negociações com os clubes brasileiros.


Com as negociações emperradas entre brasileiros e romanos, a bola da vez passou a ser Ronaldinho Gaúcho, do também italiano Milan.

Nos mesmos moldes das outras negociações estrelares, envolvendo altos salários, ajuda de empresas e patrocinadores e a possibilidade de ser “rei” diante da mediocridade da maioria dos times brasileiros, Ronaldinho tenta sair do Milan, onde é incapaz de repetir duas boas atuações seguidas, para ser a principal peça dos elencos de Grêmio (clube que o lançou ao mundo), Flamengo ou Palmeiras.

Juntando-se a essa leva de craques, também existem alguns jogadores de menor importância e nível técnico que tomam por opção voltar ao Brasil. Charles, formado no Cruzeiro e, até então, atuando no desconhecido futebol russo do Lokomotiv Moscou, foi contratado pelo Santos, sonhando com grande sucesso em uma eventual conquista de Libertadores ou Brasileirão. O chileno Valdívia dispensou a fartura árabe para retornar ao Palmeiras, clube que possui um grande carinho e onde goza de muito prestígio.

Outro caso que também ganhou muito destaque foi a recusa de Santos e Neymar aos milhões de euros oferecidos pelo Chelsea da Inglaterra. Optando por um plano de carreira desenvolvido pelo Santos e planejando uma futura venda com valores bem superiores aos atuais, Neymar, pai e filho, resolveram dar mais alguns anos ao futebol brasileiro.

É claro que todas essas negociações estão longe de possuir um âmbito emocional que mereça ser destacado, pois, se existe, não é prioridade na hora de decidir permanecer na Europa ou voltar ao Brasil.

O que acontece é que os grandes clubes brasileiros estão aprendendo a competir mercadologicamente com os clubes estrangeiros, tentando fazer com que o aspecto financeiro seja o mais próximo possível dos europeus (seja por parceria com patrocinadores ou por fundo de investimento) e que a promessa de reconhecimento, admiração nacional e muitos títulos sejam preponderantes para que eles decidam voltar.

Apesar de não ser uma decisão guiada majoritariamente pelo coração e pelo carinho existente por determinado clube brasileiro, a possibilidade de repatriar jogadores de sucesso internacional faz com que a qualidade técnica de nosso futebol aproxime-se um pouco mais do que é jogado nos gramados gringos, além de representar um bom investimento financeiro para os clubes, que se tornam um atrativo para torcedores, patrocinadores e para mais espaço na mídia.

Já eu e outros tantos amantes do futebol-paixão preferimos não pensar muito no lado financeiro que motiva a volta dessas estrelas. Preferimos apenas admirá-los pela qualidade de seu jogo e gozar do prazer de vê-los atuando em nossos campos e não mais nos distantes campos da Europa.