segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A história por trás da Bola de Ouro

Por Guilherme Uchoa

Nesta segunda-feira (13) o craque português Cristiano Ronaldo garantiu sua segunda Bola de Ouro da carreira, em cerimônia realizada em Zurique, na Suiça. O tradicional prêmio que o gajo ganhou, desbancando o argentino Messi e o francês Ribery, existe ha quase 60 anos, sendo que diversos grandes jogadores tiveram seus nomes imortalizados na galeria de campeões da revista “France Football” – criadora da premiação.

Entretanto, muitas alterações foram feitas ao longo dessas seis décadas até que a eleição anual chegasse ao padrão que temos hoje em dia.
A Bola de Ouro, entregue ao craque de cada ano

O primeiro jogador a receber a Bola de Ouro foi o inglês Stanley Matthews, em 1956. Porém, de 1956 até 1994, a revista francesa só concedia o título para jogadores europeus que atuassem no Velho Continente, eliminando assim um grande número de craques de outros países. Em função disso, grandes estrelas brasileiras, como Pelé e Garrincha, por exemplo, nunca tiveram a oportunidade de disputar o almejado título.

Nesse período, a Alemanha foi a nação que mais teve vencedores, com seis prêmios. Foram dois títulos para Beckenbauer (1972 e 1976), dois para karl-Heinz Rummenigge (1980 e 1981) e uma conquista para Gerd Müller (1970) e Lothar Matthaüs (1990).

A partir da edição de 1995, foi derrubada a barreira das nacionalidades, mas ainda era necessário estar atuando em um clube europeu para concorrer ao prêmio. Graças a essa mudança, os brasileiros passaram a ter dominância na competição. Entre 1995 e 2006, Ronaldo (em 1997 e 2002), Rivaldo (1999) e Ronaldinho Gaúcho (2005) trouxeram a Bola de Ouro para o Brasil.

Foi somente em 2007 que esta última ressalva foi eliminada, fazendo com que qualquer jogador de qualquer clube estivesse apto a participar. Desde então, Lionel Messi garantiu quatro conquistas seguidas, entre 2009 e 2012 – marca nunca antes alcançada.

Paralelamente ao prêmio Bola de Ouro, a FIFA criou, em 1991, o título de “Jogador do Ano”, já com os critérios que a publicação francesa só passou a adotar em 2007. Sendo assim, durante 19 anos o mundo do futebol teve duas premiações distintas para o jogador mais talentoso da modalidade.

Pela FIFA, o Brasil levou a honraria em oito oportunidades. Romário (1994), Ronaldo (1996, 1997, 2002), Rivaldo (1999), Ronaldinho (2004, 2005) e Kaká (2007) foram os agraciados.

Em 2010, a “France Football” uniu-se à FIFA para criar a “Bola de Ouro FIFA”, unificando assim as duas premiações. Os critérios de eleição também foram somados: os votos de técnicos e capitães de seleções, como sempre foi feito pelo órgão máximo do futebol, com as escolhas de membros da imprensa, jurados de sempre da Bola de Ouro.

De lá pra cá, somente o baixinho argentino havia saído vencedor nas três premiações em conjunto. Só que desta vez, após uma temporada de muitas lesões de Messi e de um excepcional futebol do português, a Bola de Ouro mudou de mãos.

Foi somente mais um capítulo da longa história deste que é o prêmio individual mais importante do futebol. Ano que vem, a nata da modalidade estará reunida novamente para escrever o capítulo seguinte.

Todos os premiados pela FIFA, desde 1991

Todos os campeões:

1956: Stanley Matthews (Ing)
1957: Alfredo Di Stefano (Esp)
1958: Raymond Kopa (Fra)
1959: Alfredo Di Stefano (Esp)
1960: Luis Suarez (Esp)
1961: Omar Sivori (Ita)
1962: Josef Masopust (Che)
1963: Lev Yachine (URSS)
1964: Denis Law (Esc)
1965: Eusébio (Por)
1966: Bobby Charlton (Ing)
1967: Florian Albert (Hun)
1968: George Best (Irn)
1969: Gianni Rivera (Ita)
1970: Gerd Müller (Ale)
1971: Johan Cruyff (Hol)
1972: Franz Beckenbauer (Ale)
1973: Johan Cruyff (Hol)
1974: Johan Cruyff (Hol)
1975: Oleg Blokhine (URSS)
1976: Franz Beckenbauer (Ale)
1977: Alan Simonsen (Din)
1978: Kevin Keegan (Ing)
1979: Kevin Keegan (Ing)
1980: Karl-Heinz Rummenigge (Ale)
1981: Karl-Heinz Rummenigge (Ale)
1982: Paolo Rossi (Ita)
1983: Michel Platini (Fra)
1984: Michel Platini (Fra)
1985: Michel Platini (Fra)
1986: Igor Belanov (URSS)
1987: Ruud Gullit (Hol)
1988: Marco Van Basten (Hol)
1989: Marco Van Basten (Hol)
1990: Lothar Matthaüs (Ale)
1991: Jean-Pierre Papin (Fra) – France Football/ Lothar Matthaüs (Ale) - FIFA
1992: Marco Van Basten (Hol) – France Football/ Marco Van Basten (Hol) - FIFA
1993: Roberto Baggio (Ita) – France Football/ Roberto Baggio (Ita) - FIFA
1994: Hristo Stoïchkov (Bul) – France Football/ Romário (Bra) - FIFA
1995: George Weah (Lib) – France Football e FIFA
1996: Matthias Sammer (Ale) –France Football/ Ronaldo (Bra) -FIFA
1997: Ronaldo (Bra) – France Football e FIFA
1998: Zinédine Zidane (Fra) – France Football e FIFA
1999: Rivaldo (Bra) - France Football e FIFA
2000: Luis Figo (Por) – France Football/ Zidane (Fra) - FIFA
2001: Michael Owen (Ing) – France Football/ Figo (Por) - FIFA
2002: Ronaldo (Bra) - France Football e FIFA
2003: Pavel Nedved (Che) – France Football/ Zidane (Fra) - FIFA
2004: Andrei Shevchenko (Ucr) – France Football/ Ronaldinho (Bra) -FIFA
2005: Ronaldinho (Bra) - France Football e FIFA
2006: Cannavaro (Ita) - France Football e FIFA
2007: Kaká (Bra) - France Football e FIFA
2008: Cristiano Ronaldo (Por) - France Football e FIFA
2009: Lionel Messi (Arg) - France Football e FIFA
2010: Lionel Messi (Arg) – Bola de Ouro FIFA
2011: Lionel Messi (Arg) - Bola de Ouro FIFA
2012: Lionel Messi (Arg) - Bola de Ouro FIFA

2013: Cristiano Ronaldo (Por) - Bola de Ouro FIFA

Fotos: Divulgação FIFA

domingo, 12 de janeiro de 2014

R10 tomou a decisão certa

Por Guilherme Uchoa

Um dos principais reforços do Atlético-MG para a temporada 2014 do futebol brasileiro já estava no elenco. Depois de uma longa novela, Ronaldinho Gaúcho enfim decidiu permanecer em Minas, recusando proposta para jogar no Besiktas, da Turquia.

O anúncio foi feito pelo presidente do Galo, Alexandre Kalil, através de uma rede social. 

Com uma leve provocação, Kalil celebrou a renovação de R10 em sua rede social

Por mais que tivesse uma oportunidade de retornar para solos europeus, o dentuço fez o certo ao ficar no clube pelo qual conquistou a Libertadores da América do ano passado. Em primeiro lugar, foi pelo clube mineiro que Ronaldinho provou ainda ter potencial para jogar em alto nível, quando muitos críticos afirmavam que já não tinha mais lenha para queimar.

É verdade que o nível de seu futebol não está nem perto do praticado pelo Barcelona, quando encheu os olhos do mundo com atuações memoráveis e títulos históricos (pelo clube catalão, conquistou Supercopa da Espanha em 2005 e 2006, Campeonato Espanhol em 2004-05 e 2005-06 e a Champions League de 2005-06, além dos prêmios de melhor jogador do mundo de 2004 e 2005). É verdade também que ele, assim como todo o time do Atlético, deixou uma última impressão ruim de 2013 com a eliminação no Mundial Interclubes para o Raja Casablanca.

R10 marcou 26 gols em 70 jogos com a camisa do Galo
Apesar disso, foi a peça central do elenco montado pelo técnico Cuca e foi fundamental nas campanhas dos títulos do campeonato mineiro e da Libertadores. Vestindo a camisa do Atlético-MG, Ronaldinho Gaúcho disputou 70 partidas, anotou 26 gols, distribuiu diversas assistências e conquistou dois títulos. Em suma, voltou a ter alegria em jogar futebol e voltou a ganhar taças.

Outro fato que se deve levar em consideração é de que o futebol turco não passa por um bom momento. Apesar de seu clube mais tradicional, o Galatasaray, ter conseguido pelo segundo ano consecutivo classificação para a fase de mata-mata da Champions League, os demais clube de relevância do país passam por momento de pouco brilho em âmbito internacional – incluindo o Besiktas.

A própria seleção da Turquia, mesmo ficando em um grupo em que teoricamente era a segunda potência, com Holanda, Romênia, Hungria, Estônia e Andorra, também não conseguiu classificação para a Copa do Mundo do Brasil. Os turcos alcançaram o singelo quarto lugar e foram eliminados.

Por fim, aos 33 anos e já na fase final da carreira, R10 estará em um clube que já conhece, com um elenco que já apresenta entrosamento e que, se repetir as atuações do primeiro semestre de 2013, tem tudo para brigar pelo bicampeonato da Libertadores. E nada melhor para Ronaldinho do que continuar brigando por títulos importantes, mesmo após o auge. 


Fotos: Reprodução/ Twitter e Bruno Cantini/ Site oficial do Atlético-MG

O legado do Pelé europeu

Por Guilherme Uchoa

Como todos já sabem, o mundo da bola chorou a perda, na madrugada do último domingo (5), de um dos seus melhores representantes: Eusébio. O craque da seleção portuguesa e do Benfica foi vítima de uma parada cardiorrespiratória em sua casa, em Lisboa, e deixou não só os torcedores lusitanos, mas milhões de admiradores ao redor do mundo, órfãos de mais uma referência histórica do futebol.

Estátua de Eusébio no Estádio da Luz, casa do Benfica
Dentre toda a constelação do futebol, Eusébio figura naquele seleto grupo de estrelas que possuem um brilho mais intenso, mais genial. Divide espaço com Pelé, Maradona, Cruyff, Di Stéfano, Bobby Charlton, Zidane e alguns outros poucos astros de brilho eterno.

Ao lado de Luis Figo e Cristiano Ronaldo, Eusébio da Silva Ferreira está entre os principais nomes que a seleção portuguesa já teve. A diferença é que, ao contrário da dupla, ele era moçambicano. Nasceu em Lourenço Marques (atual Maputo, capital de Moçambique), e como o país foi - até 1975 - colônia de Portugal, Eusébio foi “adotado” pelos lusitanos.

Seu início no futebol se deu no Sporting de Lourenço Marques, uma filial do chará mais conhecido, de Lisboa. Suas habilidades, entretanto, despertaram a atenção do rival Benfica, e depois de uma disputa judicial de seis meses, o lado vermelho da cidade levou a melhor, contratando o jovem de 18 anos.

A partir de então, os números falam por si só. Foram 733 gols em 745 jogos ao longo da carreira, sendo que capitalizou 727 gols em 715 partidas vestindo a camisa do Benfica. Foi 11 vezes campeão português e cinco vezes vencedor da Taça de Portugal. Além disso, foi bicampeão europeu em 1961 e 1962, quebrando a hegemonia dos espanhóis do Real Madrid, e, em 1965, foi eleito melhor jogador da Europa pela revista “France Football”.

O craque deu uma última volta no estádio onde brilhou
Por duas vezes, enfrentou Pelé. Na primeira, na disputa do Mundial interclubes de 1962, seu Benfica levou a pior e foi goleado por 5x2 em Lisboa pelo esquadrão do Santos. Na segunda chance, desta vez na Copa do Mundo de 1966, o Pantera Negra teve mais sorte e ajudou sua seleção portuguesa com dois gols na partida que marcou a eliminação do Brasil – o placar final foi 3x1.

Mas foi na Copa de 66 que Eusébio atingiu o maior feito de sua carreira. Ao lado de outras craques como Simões e Coluna, deu ao seu país uma incrível terceira colocação, sendo eliminados apenas na semifinal pela Inglaterra, anfitriões do certame. De quebra, ele ainda foi o artilheiro da competição, com nove gols. Até hoje, nem mesmo Figo ou Cristiano Ronaldo conseguiram repetir o feito, e a principal conquista de Portugal após a geração Eusébio foi o vice-campeonato da Eurocopa de 2004, conquistada pela Grécia.

Não seria justo dizer que Eusébio é, unanimemente, o maior jogador português de todos os tempos, afinal de contas, os adeptos de Cristiano Ronaldo têm bons argumentos para garantir o craque do Real Madrid nesse posto. Apesar disso, não há como negar que Eusébio deu aos portugueses algo de valor inestimável: a sensação de que podem vencer, de que são capazes de enfrentar as maiores potencias do futebol mundial de igual para igual.


Esse foi, sem sombra de dúvidas, o maior legado que o Pelé europeu deixou. 

Fotos: Reuters