O que vimos nesta manhã de domingo não foi uma partida de futebol. Foi um jogo de um time só, visto que apenas o Barcelona entrou em campo no Nissan Stadium, em Yokohama, no Japão. Mais do que isso, foi um verdadeiro massacre. O Santos perdeu para uma equipe calejada, ou seja, uma equipe que de tanto apanhar, aprendeu a bater.
O jogo disputado entre Santos e Barcelona, valendo o título de campeão mundial, não deveria interessar apenas aos dois clubes que estavam na disputa do título. Deveria interessar, ao menos, a todos os brasileiros – independentes de qual seja seu clube de preferência. A derrota por 4x0 da equipe santista foi um alerta ao futebol brasileiro.
O nível que o Barcelona atingiu nos dias de hoje não vem de outro mundo, como muitos parecem acreditar. Vem de uma filosofia adquirida pelo clube e por toda a Catalunha a mais de três décadas. Mesmo após as derrotas, após os títulos perdidos, o clube persistiu em seu trabalho nas categorias de base, persistiu com seu desejo de ter sempre a bola em seus pés e, aos poucos, as derrotas se tornaram em vitórias.
O clube que antes precisava contratar Cruyff, Maradona, Romário, Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaucho, estrelas de outros países, para alçar vôos maiores, hoje pode se orgulhar de ter seus ídolos criados em casa, na cantera de Masía. Até mesmo Messi, que como todos sabem, é argentino, foi fruto do trabalho realizado com ele em Masía desde os 13 anos.
Por esse e outros motivos é que a frase "Més que un club" disposta nas fileiras do Camp Nou - que outrora faziam referencia aos auxílios prestado pela instituição Barcelona na luta do povo catalão contra a ditadura de Francisco Franco - servem para mostrar a situação atual do time: um time que parece ser muito mais que um clube, algo muito a frente de seus oponentes.
Esta deve ser a lição aprendida pelo futebol brasileiro e seus dirigentes. Com a soberba das cinco estrelas que carregamos no peito, deixamos de lado preceitos simples - porém indispensáveis - em nossas categorias de base: o toque de bola com qualidade, a movimentação em campo sem a bola nos pés, a capacidade de finalizar com as duas pernas com igual qualidade e potência e a valorização da posse de bola, entre outras coisas. Tudo isso parece ser indispensável para formar bons jogadores de futebol, mas foram esquecidas por quase todos os clubes no país.
Já para o Santos, fica a tristeza da derrota, mas, ao mesmo tempo, a certeza de que esta seguindo o caminho correto. O futebol alegre e encantador que apresentou em 2002 com Robinho e Diego têm vez no esporte. O investimento que o peixe faz nas categorias de base rende bons jogadores a cada ano e o trabalho realizado pela diretoria de Luis Álvaro em segurar Neymar mostra ao resto do Brasil que existem alternativas para o assédio sofrido por clubes europeus.
O que o Santos fez na última década pode ser comparado ao que o Barcelona vem fazendo por tantos anos. O investimento nos jogadores da casa e a capacidade de manter suas estrelas por mais tempo no clube criam um entrosamento que passa de temporada para temporada. Criam uma identificação, uma marca para o clube. Hoje não há ninguém no Brasil que não associa o Santos a futebol jovem, encantador, alegre e ofensivo. Esta é a marca adquirida pelo clube por sua forma de jogar ao longo de muitos anos.
O peixe se tornou referência nacional e continental com essa filosofia. Esta muito longe, mas caminha para chegar aonde o Barcelona chegou.
Para o bem do futebol brasileiro e de nossa seleção, seria melhor começar a seguir os mesmos passos. Caso contrário, os vexames passados em 2006, na Alemanha, e 2010, na África do Sul, ganharão a companhia de 2014, no Brasil.