terça-feira, 14 de junho de 2011

A lição de LeBron e a fidelidade de Nowitzki


Menos de oito minutos por jogar no último quarto de partida. A bola sai das mãos dos jogadores de azul, desenha uma parábola perfeita no ar, e entra certeiramente na cesta adversária, fazendo aquele som que todo jogador de basquete adora escutar.

Do outro lado, a bola sai das mãos esbaforidas dos jogadores de branco, faz uma parábola um pouco que torta e desengonçada, bate no aro e volta a jogo sem computar pontos para sua equipe.

Toda vez que essas duas cenas se repetiam, os dois bancos de reservas das equipes tinham reações diferentes: o banco azul de Dallas Marvericks celebrava, contando até com a presença do dono da equipe, o excêntrico Mark Cuban. Já o banco branco de Miami Heat, acompanhado de toda a sua torcida presente na America Airlines Arena, agonizava com as falhas que faziam o título ficar cada vez mais longe.

O relógio foi impiedoso com o Miami e rapidamente já apontava menos de um minuto para o término da partida. Assim uma reação tornou-se impossível e o Dallas conquistaria a sexta partida da série final por 105 a 95, fechando a série em 4x2 e conquistando o primeiro título da história de sua franquia.

Mais do que isso, os Marvericks vingaram a derrota da temporada 2005-2006, quando perderam o título para o mesmo Miami Heat, comandados à época por Dwayne Wade e Shaquille O’Neal.

Para entender a grandeza desse triunfo é necessário voltar um pouco no tempo, até o início da atual temporada de 2010-2011 da NBA. LeBron James, até então astro maior do Cleveland Cavaliers, acabara de anunciar sua polêmica transferência para o Miami Heat. Aceitando receber menos para trocar de time e jogar em uma equipe com mais chances de ser campeã, LeBron deixou a cidade de Cleveland furiosa.

Em Miami, James formou o que era considerado, por todos nos Estados Unidos, um dos times mais fortes das ultimas décadas. O triunvirato foi composto por LeBron, Dwayne Wade e Chris Bosh.

Mas o começo foi conturbado. O desentrosamento atrapalhou o trio nas primeiras partidas e suas genialidades individuais foram mais do que requisitadas para transpor essa barreira. Depois, com mais entrosamento, o Heat cresceu de produção e se colocou entre os favoritos ao título.


Com isso veio a pós-temporada na qual o trio teve a tarefa de eliminar Philadelphia 76ers, Boston Celtics e o Chicago Bulls, do MVP da temporada, Derick Rose. Até este momento o time de Miami conseguia se virar contando apenas com seus três principais jogadores.

Entretanto, na decisão ficou claro que a falta de outros grandes jogadores pesaria contra. O Dallas Marvericks não possuía três estrelas como os Heat – na verdade só possui uma grande estrela, o alemão Dirk Nowitzki – mas tinha ao menos quatro ou cinco jogadores de alto nível.

Liderados por Nowitzki (que está nos Mavs desde o começo de sua carreira, em 1998), Tyson Chandler, Jason Terry, Jason Kid, Shawn Marion e Jose Juan Barea provaram ser mais eficientes que o badalado triunvirato de Miami.

Além disso, nos momentos de decisão, Dirk Nowitzki provou estar muito mais preparado do que LeBron James. Em toda a série decisiva, LeBron fez 107 pontos nas seis partidas, tendo assim uma média de 17 pontos por jogo. Entretanto sua média nos últimos períodos das partidas é de apenas 3,1 pontos. Ou seja, nos momentos derradeiros, James não consegue produzir tudo o que sabe em prol de sua equipe.


Em um time tão dependente de apenas três jogadores, ficar sem um deles no quarto período de jogo é letal.

Até mesmo em casos semelhantes ao do Miami Heat foi necessário mais do que três grandes nomes para alçar um time ao título.

É o caso do Boston Celtics. Por duas temporadas seguidas o time do Celtics ficou na ultima colocação geral da NBA. Após isso, trouxe Kevin Garnett e Ray Allen que, unindo-se a Paul Pierce que já estava no time, alçaram o Boston da ultima colocação para o título na temporada seguinte, em 2007-2008.

Mas a equipe de Boston jamais conseguiria o título sem o auxilio de seu jovem armador Rajon Rondo, do ala Tony Allen e do pivô Kendrick Perkins, que supriam as ausências das estrelas principais quando estavam descansando ou machucados.

Portanto, a lição que ficou para o Miami Heat é de que não se forma um time campeão da noite para o dia. Mesmo investindo pesado para formar um trio poderosíssimo, o coletivismo e equilíbrio ainda são ingredientes fundamentais para qualquer campeão.

Já para LeBron James, a lição que fica é de que muitas vezes é necessário provar fidelidade a sua equipe durante anos para se conseguir chegar ao topo.

Exatamente como fez Dirk Nowitzki e o seu Dallas.