quarta-feira, 28 de julho de 2010

Até onde vai a dignidade de um piloto?

É uma das últimas voltas da corrida. O piloto brasileiro da Ferrari vem liderando o GP da Alemanha para conquistar, com tranqüilidade, a primeira colocação.


Até que uma voz no comunicador do piloto indica que é hora de ele se retirar. ”Ok. So, Fernando is faster than you! Can you confirm that you understood that mensage?”. A fala pausada e a entonação usada deixam claro que era hora de Felipe Massa abrir espaço para o outro piloto da Ferrari, Fernando Alonso, aparentemente melhor que Massa, passar e conquistar a vitória que deveria ser do brasileiro.

Após isso, mais uma mensagem pode ser ouvida através do comunicador de Massa. “Ok man. Good luck, just stay with them... Sorry.”

O pedido embaraçado de desculpas não é capaz de amenizar a gravidade do que tinha acabado de acontecer. Mais uma vez na história recente da Formula-1, um piloto brasileiro seria obrigado a ceder passagem para seu companheiro de escuderia.

A sensação de “Déjà vu” remete a 2002 quando, Rubens Barrichello, brasileiro, piloto da Ferrari, sob ordens de seus superiores, deixou que Michael Schumacher, piloto número um da escuderia, assumisse na reta final a liderança do GP da Áustria. Na época Rubinho foi muito contestado e criticado pela torcida brasileira, que viu em sua atitude um ato medroso e pouco digno.


Entretanto, naquele mesmo ano tivemos um caso muito semelhante envolvendo o próprio Felipe Massa. Ele corria pela Sauber ao lado de Nick Heidfeld e estava na sexta posição do Grande Premio da Europa.

Confirmada esta sexta posição, Massa ganharia um ponto (naquela temporada, apenas os seis primeiros colocados recebiam pontos). Porém, Peter Sauber, chefe da escuderia, ordenou que o brasileiro deixasse Heidfeld, sétimo colocado até então, passar e assumir a sexta colocação, obtendo assim o ponto que seria de Massa.

Felipe recusou a ordem de Sauber e passou a linha de chegada na sexta colocação. No fim do ano, foi demitido da escuderia.

É muito provável que esses dois episódios de 2002 tenham passado pela mente de Massa nos instantes em que teve para decidir entre a obediência à hierarquia da Ferrari, e a desobediência as ordens de superiores.
Obedecendo as ordens de sua escuderia, Felipe Massa estaria comprovando o seu respeito pela hierarquia da equipe e, provavelmente, garantindo sua permanência na escuderia ao fim da temporada. Desobedecendo a orientação, ele manteria sua honra e dignidade, mas poderia passar pelo mesmo episódio de 2002 e acabar sendo demitido de uma das equipes mais fortes da F-1.

Em outras palavras, era uma questão de honra para o piloto ou fidelidade para a escuderia.

Mesmo assim devemos entender também o ponto de vista da Ferrari. Por ser ela quem investe fortunas nas corridas, possui o direito de usar os seus pilotos para fazer o seu “jogo de equipe”, fazer o que achar mais conveniente para si.

Tudo isso será julgado pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo) no dia 10 de setembro, em Paris, onde esta localizada sua sede. Mas, dificilmente eles conseguirão chegar a um consenso sobre as linhas que separam os direitos da escuderia dos direitos do piloto, fazendo com que seja impossível afirmar quem esta certo e quem esta errado nessa situação.

Provavelmente permaneceremos com a dúvida de se o trabalho em equipe da escuderia e seus interesses valem tanto quanto o orgulho e a glória pessoal do piloto que dirige o automóvel.

Enquanto isso, os brasileiros vão assumindo os seus papéis de coadjuvantes e abrindo espaço para que outros pilotos brilhem.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Nas (des)graças da torcida

Até o mês passado, antes da Copa do Mundo, Neymar era excepcional,Ganso era genial, André era matador e o Robinho era o jogador perfeito para completar o grupo com esses jovens.

Porém, depois de apenas dois jogos (e duas derrotas), tudo isso veio a ruir. De genial, o Ganso passou a ser “pipoqueiro”, de excepcional, Neymar passou a ser uma “bichinha”. De matador, o André virou “fraco” e o Robinho ganhou a alcunha de “ridículo”.

Não seria surpreendente caso essas ofensas fossem feitas por torcedores rivais ao Santos. Mas, o que realmente me estarrece é que, todas essas ofensas, são feitas pelos próprios “torcedores” do Santos.

Dizem que brasileiro tem memória curta. Em pouco tempo esquece dos políticos corruptos, esquece das glórias atingidas por seus atletas em olimpíadas, esquece o nome de assassinos e de seus crimes chocantes.


Pois bem, a memória do “torcedor” santista dura apenas um mês. Ela já esqueceu do título do Campeonato Paulista e o excelente desempenho na Copa do Brasil.

Já esqueceu as três vitórias em cima do São Paulo. O gol de letra feito por Robinho em sua estréia sobre o mesmo São Paulo. Os gols incríveis de Neymar. As goleadas histórias de 10 a 0, 9 a 1 e 8 a 1 (sobre Naviraiense, Ituano e Guarani, respectivamente). O petardo de Ganso no gol contra o Grêmio, que valeu a classificação do Santos a final da Copa do Brasil. Os gols de cobertura de Robinho e Ganso e as comemorações que faziam a alegria da torcida.

Tudo isso parece ter virado um passado distante e insignificante para a grande maioria da torcida. “Ela” não aceita queda de rendimento, “ela” não aceita sair de uma partida sem ter visto pelo menos cinco gols de sua equipe. “Ela” virou uma torcida mimada e arrogante que é capaz de transformar seus ídolos de ontem, em pernas-de-pau de hoje.

Contra o Fluminense, ontem na vila, essa torcida atingiu o limite de sua antipatia. O time não saiu de campo vitorioso, mas também não teve um desempenho fraco. O Santos criou infinitas possibilidades de gols, envolveu o seu adversário e arriscou muito para sair com a vitória. Entretanto, seus chutes pararam nas mãos do goleiro Fernando Henrique, esbarraram na trave ou passaram muito perto da meta.

Ontem, não era dia de sair gol para o Santos. Na verdade, ontem era dia de o torcedor santista provar sua fidelidade com o clube e incentivar os jogadores em campo. Era dia de mostrar que, apesar das derrotas, eles ainda acreditavam nos meninos da Vila. Era dia de renovar seu amor com o time e mostrar aos jogadores sua confiança no desempenho que eles podem ter.

Estamos a nove dias da decisão da Copa do BR e nunca, neste ano, a relação entre torcedor e jogador esteve tão estremecida quanto agora. Talvez seja hora de refletir a importância que um torcedor pode ter em uma partida de futebol. Em um momento delicado que o seu clube passe, você toma que tipo de atitude? Incentivar e torcer pela recuperação ou ajudar a afundar seus atletas com ofensas e palavras duras?
Se a sua resposta foi a segunda opção, talvez seja melhor ficar em casa e assistir aos jogos pela televisão.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

K9 e o seu sonho de Europa

Com o término da Copa do Mundo, as atenções voltam para os clubes brasileiros e suas competições. Saem de cena Forlan, Cristiano Ronaldo e Iniesta, e entram Ronaldo, Neymar e Hernanes.

Durante esses 30 e tantos dias em que a Copa se desenrolava na África, os clubes daqui buscavam reforços para o segundo semestre. Afinal de contas, existi sim, vida depois da Copa.

O Palmeiras trouxe Felipão para o comando e Kleber “Gladiador” para o ataque. O Flamengo contratou três jogadores. Entre eles um goleiro, visto que o seu goleiro titular não esta em condições de atuar (não vou me estender nesse assunto. Afinal de contas, “quem nunca saiu na mão com a mulher, xará?”).

Mas uma das contratações que mais chamou a atenção foi feita pelo Santos. Adquiriu o atacante Keirrison.O jogador chega ao Santos por um período de empréstimo de um ano junto ao Barcelona da Espanha.


O jovem de 21 anos começou a despontar para o futebol atuando pelo Coritiba, sendo artilheiro de sua equipe com 12 gols na disputa da série B de 2007. Esses gols foram fundamentais para levar o “Coxa Branca” ao título da competição.

No ano seguinte, na série A, Keirrison fez 21 gols, dividindo a artilharia do campeonato com Kléber Pereira e Washington. Desses 21 gols assinalados por ele, o torcedor santista deve recordar-se de pelo menos sete, já que esse foi o número de gols que o atacante fez na equipe da vila, em apenas dois jogos.

No primeiro turno do Brasileirão, o Coritiba bateu o Santos na Vila Belmiro por 3 a 1, sendo os três gols marcados por Keirrison. Maikon Leite fez o tento em favor da equipe da Vila. No segundo turno, o K9 foi além. Foi o autor de quatro gols em cima do Santos na goleada por 5 a 1.

Em função desses ótimos resultados apresentados, o Palmeiras adquiriu o jogador no começo de 2009. Entretanto, sua passagem pelo clube foi mais curta do que poderia se imaginar. Após um excelente começo, com 16 gols assinalados em 14 partidas, Keirrison foi negociado com o Barcelona, irritando o até então técnico do verdão, Luxemburgo.


Depois dessa desavença, o atacante rumou para a Europa onde não conseguiu o sucesso esperado. Ao chegar no Barcelona, foi imediatamente emprestado para o Benfica de Portugal. Por lá ele atuou em sete partidas apenas, marcando dois gols. Insatisfeito, foi emprestado mais uma vez, agora para a Fiorentina da Itália. Mas, por falta de espaço, também não atuou muito. Fez outros dois gols em 11 partidas.

Foi nesse momento que surgiu o interesse do Santos em contar com o atleta em seu elenco. Após vender sua jóia da base, o atacante André, para o futebol da Ucrânia, o time da baixada precisava repor seu elenco no setor ofensivo. A Fiorentina não queria Keirrison para o segundo semestre e o Barcelona estava interessado em emprestá-lo mais uma vez. Logo, o acordo foi fechado para que ele voltasse ao Brasil buscando recuperar o futebol que não foi capaz de apresentar durante um ano na Europa.

Ainda é cedo para dizer se Keirrison poderá ocupar o lugar deixado por André. Portanto, o que podemos fazer, por enquanto, é analisar os números apresentados pelos dois artilheiros.

André estreou entre os profissionais do Santos em 2009, marcando um gol na vitória santista sobre o Fluminense por 2 a 0. No total, André atuou em 49 partidas e fez 28 gols, alcançando assim uma média de 0,57 gol por partida.

Keirrison fez mais gols e atuou em mais partidas que André. Em 175 jogos, ele foi responsável por 93 gols. Logo, sua média é de 0,53 gol por partida.

Lógico que apenas números não são capazes de determinar a eficiência que um jogador possa ter por um clube, mas ajudam a mostrar a semelhança existente entre os dois atacantes. São dois jovens que despontaram entre os melhores do futebol brasileiro. Um deles esta de partida para a gélida e desconhecida Ucrânia, onde espera provar seu valor com gols pelo Dynamo de Kiev. O outro teve seu “sonho de Europa” interrompido pela falta de oportunidades nos clubes que passou.

Agora Keirrison tenta recuperar seu prestígio para um dia voltar ao futebol do velho continente. Aos santistas, resta a esperança de ver o K9 balançar as redes várias vezes. Só que, dessa vez, a favor da equipe peixera.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Ganha o time do Po(L)vo



Pode parecer estranho, mas a Copa do Mundo da África do Sul acabou e o principal destaque foi o polvo Paul, o polvo vidente.

Ele previu com exatidão os vitoriosos de oito partidas desta copa. Mas não previu que tantas estrelas do futebol deixariam a desejar na competição. Messi, Cristiano Ronaldo e Wayne Rooney não apareceram para o torneio e suas seleções, tão dependentes de seus desempenhos, ficaram pelo caminho.

Com tantas estrelas decepcionando durante o torneio, era de esperar que, pelo menos na final, Holanda e Espanha mostrassem um futebol vistoso.

Mas não foi bem assim. Com as duas equipes jogando um futebol meia-boca, parecia que o melhor candidato a erguer a taça era o torcedor maluco que invadiu o campo minutos antes dos jogadores entrarem.


A Holanda, que jogou um futebol tão eficiente até então, parecia mais preocupada em intimidar o oponente com “butinadas”, ao melhor estilo Costa do Marfim, do que propriamente envolver o adversário com a qualidade de seus meias. De Jong, com seu chute no peito de Xabi Alonso, e Van Bommel, com a sutileza que lhe é peculiar, poderiam perfeitamente unir-se a Felipe Melo em um time de luta livre.

Já a Espanha, muito mais interessada em jogar futebol do que qualquer outro esporte, buscou a vitória da mesma forma que fez nas partidas anteriores: valorizando a posse de bola e tentando trabalhar o toque com todas as suas peças. O estilo de jogo é bem similar ao do Barcelona, o que não é difícil de entender já que a maior parte do time titular é composta por jogadores dessa equipe. Dos 11 que entraram em campo para a decisão, sete são jogadores do Barça.

Apesar de ser melhor em campo, quem teve as maiores chances de definir a partida foi a Holanda. Aliás, quem teve as melhores chances de definir a partida foi Robben. Por duas vezes ele teve a oportunidade de abrir o placar para a sua equipe e por duas vezes parou nas mãos de Casillas (ou nos pés também).


Com toda essa inoperância dos ataques, a partida foi para a prorrogação. E mais uma vez a Espanha monstrou-se mais interessada em fazer gols. Com isso, foi premiada com o tento assinalado por Iniesta, aos 11 minutos do segundo tempo da prorrogação.
Não vou entrar no mérito de avaliar se o futebol bonito da Espanha ganhou do futebol de resultado da Holanda pois, para mim, o futebol bonito pode ser de resultado e vice-versa.

A questão é que a Espanha se torna a primeira seleção europeia a conquistar uma Copa do Mundo fora de seu continente. Já para a Holanda sobra a amargura de terminar pela terceira vez como segundo colocado.

Independente da escolha feita pelo molusco vidente, ganhou a equipe que mais buscou jogo, que mostrou toda a sua vontade de ganhar e que teve nas mãos de seu goleiro-capitão Casillas a certeza de que estava entrando para a história ao erguer a taça mais cobiçada de todas.

Agora a copa do mundo descansará na Espanha até que, em 2014, a nata do futebol mundial volte a se encontrar na busca pela glória.

Para o Brasil, glória maior seria provar para o mundo a capacidade de sediar um torneio dessa importância. A capacidade de resolver os sérios problemas sociais que passamos, sem ter a necessidade de “escondê-los” durante um mês para que depois do torneio eles voltem com força redobrada. Isso seria muito mais valioso do que os quilos de ouro puro que a taça do mundo possui.

Até o Polvo Paul já sabe disso, só falta os nossos políticos saberem.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A escolha de LeBron


Poucas vezes na história da NBA uma pré-temporada foi marcada por tanta expectativa quanto ao destino de um jogador.

Amare Stoudemire saiu do Phoenix Suns, do brasileiro Leandrinho Barbosa, para tentar a sorte no New York Knicks. Carlos Boozer deixou o Utah Jazz para defender as cores do Chicago Bulls.

Entretanto, essas notícias nem ao menos chegam perto da importância da transferência do astro LeBron James para o Miami Heat. Após sete anos dedicados ao Cleveland Cavaliers (sem nunca ter conquistado um título), a estrela decidiu unir-se a Chris Bosh e Dwyane Wade para formar, o que já esta sendo considerando pela imprensa norte americana, um “supertime”.

A sede por títulos de LeBron é tão grande que ele aceitou receber menos do que receberia nos Cavs para poder fazer parte dessa super equipe. Caso optasse por continuar em Cleveland, receberia algo em torno de US$ 128 milhões. Porém, para um contrato de cinco anos com o Miami Heat, o astro receberá a “mixaria” de US$ 99 milhões.

Valores a parte, o que realmente interessa para os fãs da NBA é se esse trio será capaz de tirar a hegemonia imposta por Los Angeles Lakers e Boston Celtics, ou se acabara sendo uma decepção como foi a dupla Allen Iverson e Carmelo Anthony no Denver Nuggets.

A história da NBA prova que apenas uma estrela não é capaz de leva uma equipe ao título. Nem mesmo Michael Jordan conquistou um título enquanto não tinha a companhia de Scottie Pippen. Os Celtics também só conseguiram sair das últimas posições para se tornarem uma das franquias mais fortes da liga quando Paul Pierce passou a ter a ajuda de Kevin Garnett e Ray Allen.

Apesar de toda a frustração e raiva dos torcedores dos Cavaliers em ver a sua principal estrela trocando de ares, podemos ter certeza que essa temporada da NBA será uma das mais interessantes dos últimos anos. Com várias estrelas trocando de franquia, podemos esperar muito equilíbrio entre as equipes e vários candidatos ao título. Por fim, saberemos se LeBron James atingiu a maturidade necessária para chegar ao topo ou se ainda permanecerá na sombra de Kobe Bryant.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Hoje o céu parece mais azul


O ano era 1950

O estádio era o Maracanã

O jogo valia o título da Copa do Mundo

O favorito era o Brasil

O vitorioso foi a Celeste uruguaia...

Aquele Uruguai, bicampeão olímpico (1924 em Paris e 1928 em Amsterdã), tornava-se então bicampeão mundial (o primeiro título veio em 1930 na primeira edição do torneio). Porém, a surpreendente virada em cima do Brasil foi o último momento de brilho da celeste em copas do mundo. Desde que os gols de Schiaffino e Ghiggia emudeceram o Maracanã, parece que a poderosa Celeste também se aquietou. Os anos que seguiram foram de letargia e de resultados inexpressivos. A camisa azul-celeste foi perdendo sua força e seu respeito perante os adversários.

Foram 60 anos nos quais 14 edições de copas do mundo foram disputadas e o resultado mais expressivo do Uruguai foi uma quarta colocação nas copas de 54 e 70. Foram 31 jogos disputados nos quais tiveram apenas oito vitórias contra nove empates e 14 derrotas.

Esse era o quadro que o Uruguai apresentava antes de iniciar a Copa da África do Sul. As expectativas não eram muito positivas quanto ao desempenho que esta seleção poderia ter, visto que tinha conseguido sua classificação para o torneio apenas na repescagem.

Entretanto, o que se viu em solos africanos foi algo que esta fora de nossa compreensão.O Uruguai em campo não era a mesma seleção frágil e pouco inspirada vista nas eliminatórias. Era um Uruguai forte, que sabia de seus limites e que estava confiante no que era capaz de fazer.

Difícil acreditar que tamanha mudança de postura deva-se apenas a alteração tática do técnico Oscar Tabarez, deslocando, o até então atacante, Forlan para a armação de jogadas. Parece que houve uma mudança de espírito, uma mudança sobrenatural que foge ao nosso entendimento e que fez com que esses jogadores incorporassem os bons e velhos tempos de Celeste Olímpica, como era conhecida.

Subitamente, o Uruguai a passou a contar com a segurança e eficiência de seu camisa 2, Lugano. Passou a contar com a raça e empenho na marcação de seu camisa 4, Fucile. Contava com a precisão e técnica de seu camisa 10, Forlan e com a pontaria certeira de seu camisa 9, Suarez.

Além disso, essa seleção nos presenteou com um dos jogos mais emocionantes de todas as copas: o jogo contra Gana pelas quartas de final, no qual Suarez sacrifica-se colocando, propositalmente, as duas mãos na bola dentro da grande área uruguaia para evitar o que seria o gol da classificação ganesa e eliminação celeste. O pênalti, cobrado por Asamoah Gyan, aos 17 minutos do segundo tempo da prorrogação, não entrou e o Uruguai conseguiu a heróica e histórica classificação na disputa por penalidades.


Depois de tudo isso, não é necessário ver mais nada dessa seleção pois, só pelo que já foi visto, é o suficiente para afirmar que o Uruguai ressurgiu e que mais uma vez figura entre as principais potencias do futebol. Ótimo para os amantes desse esporte, que agora podem ver uma camisa de peso e tradição desfilando com dignidade pelos campos do mundo.

Sendo assim, para este jogo (Uruguai x Alemanha, pela terceira posição), eu não tenho dúvidas de para quem eu devo destinar minha torcida. Assim como não tenho dúvidas de qual será a imagem dessa Copa que ficará guardada em minha mente... Teria sido a mão de Deus?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Como se perder uma Copa do Mundo em apenas três etapas

O assunto já foi mais do que comentado e discutido na mídia, mas acredito que seja interessante destinar mais algumas linhas a este assunto.

Afinal, como deixar uma copa do mundo escapar de suas mãos? Talvez, sofrendo um gol no qual a bola não atravesse totalmente a linha fatal como ocorreu com a Alemanha em 1966. Talvez desperdiçando uma cobrança de pênalti como fez Roberto Baggio em 1994 contra o Brasil. Ou então desferindo uma cabeçada em seu oponente e,conseqüentemente, sendo expulso de uma final como fez Zidane em 2006.


Diversas formas de ser eliminado em um dos torneios mais importantes do mundo poderiam ser citadas, porém, não me recordo de nenhum jogador que tenha feito tanto esforço para que isso acontecesse como fez Felipe Melo.

Sua convocação já era muito contestada pelos brasileiros e sua presença entre os titulares era quase uma loucura de Dunga. Afinal de contas, será possível que, entre os 180 milhões de brasileiros, não exista um volante melhor qualificado para usar a camisa 5 da seleção?

De qualquer forma, no meio dos outros jogadores questionáveis da seleção (Josué, Kleberson, Julio Batista, Gilberto, etc.), Felipe Melo até parecia um jogador razoável. Porém, o que se viu em campo foi de dar inveja aos bons tempos do jogador Dunga. Felipe Melo foi um jogador violento, desleal, previsível e uma tragédia mais do que anunciada aproximava-se.

Sendo assim, para o técnico Dunga, uma bomba estava preste a explodir. E realmente explodiu; e plenas quartas de final contra a poderosa Holanda.

Antes disso, por incrível que pareça, F. Melo deu uma assistência genial para Robinho abrir o contador, em um passe em profundidade a lá Zico (as comparações limitam-se apenas a este passe).

Mas a catástrofe ainda iria começar.

A primeira etapa desta catástrofe foi o gol contra. Todos sabem que a grande área é o local onde o goleiro da equipe deve se impor. É o momento em que ele aparece, mais alto do que os outros 21 jogadores, e domina a bola com segurança para então afastar o perigo de sua área. Mas não deve ser muito fácil fazer isso quando se tem um Felipe Melo trombando com você e desviando a sua bola para dentro de sua própria rede. 1 a 1 no placar.

O jogo segue e o Brasil fica nervoso em campo, erra coisas simples que não errava antes e passa a clara mensagem para a Holanda que o caminho para a virada seria nos cruzamentos. E é em mais um cruzamento no qual Felipe Melo nos passa sua segunda etapa dos ensinamentos. A falha de marcação.

Essa etapa é bem mais simples do que a anterior, basta você ficar parado, ou seja, não fazer absolutamente nada do que seria esperado por você em um escanteio. Afinal de contas você é o volante da equipe e, ao invés de marcar o oponente, você “esquece” dessa função básica e deixa que um jogador de 1 metro e 70 cabecear a bola totalmente livre para dentro de seu gol. 2 a 1 no placar.

Depois disso, aquele Brasil nervoso em campo visto anteriormente parecia até um time calmo e tranquilo comparado com o que se viu na sequencia. Mas, Felipe Melo estava calmo, afinal de contas, ele não tinha terminado seu serviço.


Sendo assim, chegamos a terceira e última etapa do processo. A expulsão.

Quando o seu time pensa que você não tem mais nenhuma “burrada” para fazer, eis que você pisa no principal jogador adversário e é mandado embora do “combate”. Com essa atitude, você sela de vez o destino de sua seleção e impossibilita qualquer tipo de reação que poderia acontecer.

Com essas três etapas, você é capaz de eliminar as melhores seleções de uma copa do mundo e entrar para a história na seleta lista dos vilões brasileiros, dividindo espaço com Ghiggia, Paolo Rossi, Zinedine Zidane e Thierry Henry.

Bom para o técnico Dunga, que agora pode dividir essa titulo de vilão com outra pessoa.

História das Copas (texto produzido em junho/2010)

Desde que foi disputada a primeira Copa do Mundo, em 1930, idealizado pelo jornalista francês Jules Rimet, o torneio passou de uma simples competição internacional para um dos eventos esportivos mais importantes e aguardados por todos os amantes do futebol. Dentro desses 80 anos de torneio, diversas seleções ficaram marcadas por seus títulos e pela forma como revolucionaram o futebol.

A primeira Copa do Mundo foi disputada no Uruguai, tinha apenas 13 seleções participantes, das quais apenas quatro eram européias, visto que a maioria das seleções da Europa decidiram não participar em função de uma grave crise econômica. Esta copa teve o próprio Uruguai, bicampeão olímpico, como grande vitorioso. Quatro anos depois, em 1934, 32 seleções tiveram que participar de partidas eliminatórias para que então 16 equipes tivessem o direito de disputar o torneio. O Uruguai recusou-se a participar em represaria as seleções européias que não participaram da edição anterior. Mais uma vez o país sede da competição, a Itália desta vez, sairia campeão. A hegemonia italiana foi comprovada na edição seguinte do torneio realizado na França, quando a azurra derrotou a Hungria na final.


Porém, em função da Segunda Guerra Mundial, a Copa do Mundo não foi realizada durante 12 anos, só retornando em 1950 em solos brasileiros. Esta Copa entrou para a história do país de forma negativa pois o Brasil, após eliminar todos os adversários e chegar à final como favorita ao título, foi derrotado pelo Uruguai, de virada, em pleno estádio do Maracanã. Este episódio entrou para a história como o Maracanazo e até hoje é lembrado como um dos momentos mais tristes do futebol brasileiro. Diversos jogadores como o goleiro brasileiro Barbosa e o atacante Ghiggia, autor do segundo gol uruguaio, ficaram marcados como vilões desta derrota inesperada e o Brasil só viria a superar essa derrota oito anos depois quando ganharia sua primeira copa do mundo.

Antes disse, em 1954 na Suíça, a Alemanha conquistou o título derrotando a Hungria na decisão.

Então, em 1958 na Suécia, o Brasil finalmente conquistou seu primeiro título mundial. Contando com jogadores históricos como Djalma Santos, Zito. Nilton Santos, Didi e a incrível dupla Garrinha e Pelé, o Brasil passou por todos os seus adversários até derrotar a anfitriã por 5 a 2 na grande decisão. Nesta partida a seleção canarinho entrou em campo com: Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando, Nilton Santos, Zito, Didi, Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo. O técnico era Vicente Feola.

Quatro anos após a seleção voltaria a ganhar a copa do mundo, desta vez no Chile contra a Tchecoslováquia. Na final, em campo, a seleção contava com a base da equipe que conquistara o primeiro título: Gilmar, Djalma Santos, Mauro, Zózimo, Nilton Santos, Zito, Didi, Garrincha, Vavá, Amarildo (que substituiu o contundido Pelé) e Zagallo. Desta vez o técnico era Aymoré Moreira.

Em 1966 a Inglaterra, jogando em casa, foi a vitoriosa deixando a Alemanha Ocidental com o segundo lugar. Em 70 no México, uma seleção brasileira renovada foi a encarregada de conquistar o tricampeonato e com isso obter a posse definitiva da taça Jules Rimet. A seleção fez uma campanha perfeita, ganhando todas as partidas as quais disputou inclusive goleando a Itália na final por 4 a 1. Em campo nesta partida tínhamos Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza, Everaldo, Clodoaldo, Gérson, Rivellino, Jairzinho, Tostão e Pelé, comandados por Zagallo.

Após esta edição do torneio, o Brasil ficou um longo período sem o título. Foram 24 anos nas quais a Alemanha (1974 e 1990), Argentina (1978 e 1986) e Itália (1982) foram campeãs. Destas edições do torneio grandes equipes ficaram marcadas pelo futebol apresentado, mesmo que não tenham conquistado o título. É o caso da seleção holandesa de 1974, conhecida como laranja mecânica, que, comandada por Cruyff, deixava seus adversários perdidos em campo. Esta seleção foi uma das responsáveis pela precoce eliminação do Brasil na competição derrotando-a por 2 a 0. Outra seleção que ficou marcada na historia das copas, apesar de não conquistar o troféu, foi a própria seleção brasileira de 1982. Este time é até hoje lembrado como uma das seleções que jogava o futebol mais bonito. Comandada por estrelas como Zico, Falcão e Sócrates, o Brasil enchia os olhos de todos que a assistiam. Porém esse futebol envolvente não foi capaz de vencer a eficiência da Itália de Paolo Rossi, autor dos três gols na derrota canarinha por 3 a 2, causando a eliminação brasileira.

O jejum finalmente terminou e 1994 nos Estados Unidos quando a dupla Romário-Bebeto se encarregaram de levar a equipe até a decisão (Dos 11 gols marcados durante toda a competição, oito foram da dupla). O título, porém, só viria na disputa por pênaltis. Após o jogo terminar empatado em 0 a 0, as duas seleções foram para as cobranças de penalidades e Roberto Baggio, principal nome italiano, bateu sua cobrança por cima da meta, dando o tetra para o Brasil. Este campeonato foi conquistado com Taffarel, Jorginho, Aldair, Márcio Santos, Branco, Dunga, Mauro Silva, Mazinho, Zinho, Bebeto e Romário em campo. Eram comandados por Carlos Alberto Parreira.

Em 1998, na França, o Brasil chegou mais uma vez até a final da competição. Porém desta vez as lembranças não são tão boas quanto às de 94. Com Zagallo retornando ao comando da equipe e com Taffarel, Cafu, Roberto Carlos, Dunga, Rivaldo, Bebeto e Ronaldo em campo, o Brasil foi avançando de fases até chegar a decisão contra a França de Zinedine Zidane. Entretanto, antes da partida decisiva, um episódio incomum ocorreu dentro do hotel brasileiro. Horas antes da partida, Ronaldo sofreu uma convulsão e foi levado as pressas para o hospital. Mesmo assim o jogador foi escalado por Zagallo alegando que os exames realizados no hospital não tinham constatado nada de anormal e que, portanto, Ronaldo estaria com plenas condições de jogo. Porém não foi isso que foi visto em campo. Ronaldo estava muito longe de desempenhar o seu melhor futebol e causava uma grande preocupação em seus companheiros de equipe. Isto ficou muito claro quando, em um determinado momento da partida, Ronaldo chocou-se violentamente com o goleiro francês Barthez. Após este choque vários jogadores correram desesperadamente até o atacante brasileiro que estava no chão, temendo que algo pior pudesse acontecer ao atleta.

Este episódio envolvendo Ronaldo e a bela atuação de Zidane (autor de dois gols na final) são apontados como fatores determinantes para a derrota do Brasil por 3 a 0.

A Copa seguinte, de 2002, teve uma característica inédita: Pela primeira vez dois países (Coréia do Sul e Japão) seriam sedes da competição. E foi do Japão que o Brasil trouxe o Penta. A campanha foi perfeita: 2 a 1 na Turquia, 4 a 0 na China e 5 a 2 na Costa Rica pela primeira fase. 2 a 0 na Bélgica pelas oitavas, 2 a 1 na Inglaterra pelas quartas e 1 a 0 contra a Turquia nas semifinais. Por fim, bela atuação da dupla de ataque Rivaldo e Ronaldo e vitória em cima da Alemanha por 2 a 0 na final. O time titular para esta última partida era: Marcos, Lúcio, Roque Júnior, Edmilson, Cafu, Gilberto Silva, Kleberson, Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos, Rivaldo e Ronaldo. O comando ficou por conta do técnico gaúcho Luiz Felipe Scolari.

Na última edição da Copa do Mundo de 2006, o Brasil continuou com a sina de alternar seleções vitoriosas com grandes decepções. A seleção canarinho era vista como grande favorita ao título por possuir o chamado “quadrado mágico” formado por Ronaldo, Adriano, Ronaldinho Gaúcho e Kaká. Mas o que se viu em campo não possuía nada de mágico. É verdade que a equipe passou com relativa facilidade pela fase de grupos e por Gana nas oitavas de final. Porém, sua fragilidade ficou evidente ao perder para a França na fase seguinte em uma atuação muito fraca. O jogo decisivo ficou por conta da Itália e França e o que se viu foi uma final digna do tamanho das duas seleções. No tempo normal, 1 a 1. Na prorrogação, empate permanece e Zidane é expulso após perder o controle a desferir uma cabeçada em Materazzi da Itália. Nos pênaltis, a azurra conquista o quarto título de sua história.

E é com essa história que chegamos a mais uma edição da Copa do Mundo, desta vez África do Sul, a primeira disputada no continente africano. Quem escreverá seu nome na história? O Brasil será capaz de conquistar o hexacampeonato? Ou a Itália conquistará o quinto título, igualando-se ao Brasil? A Espanha poderá comprovar seu favoritismo apontado por muitos? A Argentina, comandada por Lionel Messi, será capaz de sair vitoriosa apesar de todas as dificuldades apresentadas durante a fase eliminatória?

Na terra de Nelson Mandela, herói na luta contra a discriminação racial, todas as nações e etnias voltam a se unir em torno de sua principal arma: a bola.