Por Guilherme Uchoa
Durante
pelo menos 20 anos, o basquetebol brasileiro esteve habilitado para competir em
alto nível contra as duas principais potências da modalidade: Estados Unidos e
União Soviética. Neste período, que empreendeu as décadas de 1950 e 1960, as
três nações revezavam-se nas primeiras colocações nos pódios olímpicos e
mundiais – algo impensável para a atual realidade do esporte no país.
Kanela comandava a seleção com rigor e autoridade |
Foi
nessa fase que o Brasil conquistou, comandados pelo técnico Kanela, e liderados
em quadra pelos craques Wlamir Marques e Amaury Pasos, dois títulos mundiais e
duas medalhas em Jogos Olímpicos. A esse currículo somam-se as cinco conquistas
sul-americanas, já que nem os hermanos
do Uruguai e da Argentina, costumeiramente grande algozes, conseguiam impor
grande resistência ao escrete canarinho.
Dentre
tamanhas vitórias e do bom momento que o Brasil vivia em outras modalidades (o
boxe com Eder Jofre, tênis com Maria Esther Bueno, e o futebol com Pelé e
Garrincha), a mais valiosa para o esporte da bola laranja, foi o bimundial de
1963, que neste sábado (25) completa 50 anos.
Neste
ano, o torneio foi realizado no Rio de Janeiro, que já havia sido sede do
mundial de 1954, quando o Brasil ficou com a prata. A escolha do local foi
determinante para Kanela e seus comandados já que, na Cidade Maravilhosa,
contou com o apoio expressivo to torcedor carioca, sempre lotando as
dependências do ginásio do Maracanãzinho. “O ginásio já estava lotado desde a
estreia, não cabia nem uma mosca, e “vinha abaixo” quando entravamos na
quadra”, conta o ex-pivô Antônio Sucar. “Era impressionante”, completa.
Antes
do início do certame, entretanto, o Brasil sofreu um baque: deixou escapar o
título do Pan-americano de 63 para os Estados Unidos, jogando no ginásio do
Ibirapuera, em São Paulo. Depois da competição em solos paulistas, as duas
seleções seguiram direto para o Rio.
Por
ser o país-sede do Mundial, o Brasil não participou da fase de grupos, estando
automaticamente classificado para a segunda fase. A partir daí, foram seis
partidas, com 100% de aproveitamento.
Amaury Pasos era um dos principais nomes da seleção brasileira |
A
estreia foi contra o time de Porto Rico, que segundo o ex-pivo Luiz Cláudio
Menon, dificultou ao máximo a vida dos anfitriões. “Contra Porto Rico jogamos
muito mal. Porto Rico sempre teve um intercambio constante com os Estados
Unidos e, por isso, é um time chato de jogar contra. Eles marcam muito bem,
tiveram uma boa produtividade de cestas e aliado a uma estreia com o
Maracanãzinho lotado e uma gritaria desgraçada, o nosso time não andou”,
explica. Apesar das adversidades, vitória verde e amarela por 62 à 55.
Os
três jogos seguintes terminaram com vitórias tranquilas dos brasileiros,
primeiro sobre a Itália, por 81 x 62, em seguida para a Iugoslávia, por 90 à
71, e logo após, contra os franceses, desta vez por 77 à 63.
Na
reta final do certame, veio a hora de enfrentar os dois maiores rivais
brasileiros. No dia 23 de maio, com uma partida memorável do ala Victor
Mirshauswka, autor de 27 pontos, o Brasil passou pelos soviéticos. Placar final
de 90 x 79.
Já
no dia 25 de maio veio a consagração do título com a vitoria diante da poderosa
seleção norte americana por 85 á 81, em um ginásio tomado pela torcida
brasileira.
Segundo
o ex-ala Wlamir Marques, a data ficou marcada como o momento mais importante de
sua carreira “Minha maior emoção foi o mundial do Rio, em 63. No Maracanãzinho
lotado, ganhamos de forma invicta. Éramos credenciados a ganhar, embora
achássemos que fosse difícil porque uma semana antes do início do mundial
havíamos perdido o Pan-americano para a seleção dos Estados Unidos” recorda.
“Quando ganhamos o último jogo, teve aquela invasão, quase fiquei pelado em
quadra. Essa foi, sem dúvida nenhuma, a maior emoção que passei”, diverte-se.
Com
a campanha perfeita, não foi surpresa que Wlamir e Amaury fossem escolhidos
para integrar o quinteto do campeonato. Ao todo, o Diabo Loiro fez 108 pontos
(média de 18 por partida), enquanto que Amaury Pasos computou 106 (17,6 por jogo).
A dupla foi responsável por 214 dos 485 pontos anotados pelo Brasil na
competição.
Dessa
maneira, de forma inquestionável, diante de sua torcida, e vencendo os
adversários mais duros, o basquete brasileiro repetiu o feito que o futebol já
havia alcançado no ano anterior, no Chile: ser bicampeão mundial. A coquista na
Cidade Maravilhosa, abençoada pelo Cristo Redentor, serviu para coroar uma
geração que não recebia nada para servir a seleção brasileira. Apenas a honra e
o orgulho de vestir a camisa verde e amarela.
Fotos: Divulgação/ CBB