Por Guilherme Uchoa
Usando roupa provocante e andando de forma sedutora, “Bonnie” entra em uma loja de eletrônicos no shopping Ibirapuera e compra quatro iPads de R$ 2 mil cada, além de outros produtos de alto valor. A compra naquele dia foi de R$ 17.500. Os vendedores da loja, distraídos com a bela loira e diante da possibilidade de fazer uma boa venda, não verificam se o cartão de crédito apresentado pertencia mesmo à moça. Do lado de fora do shopping, dirigindo um carro roubado, estavam “Clyde” e sua vítima, a proprietária do veículo.
Era assim mesmo que agia a “gangue das loiras”: apostando na beleza de suas integrantes e usando os codinomes da famosa dupla de assaltantes a banco dos Estados Unidos do início da década de 30, que ficou eternizada nos cinemas em 1967, com o filme “Bonnie & Clyde – Uma rajada de balas”. Eles sequestravam mulheres desacompanhadas, de preferência loiras, em estacionamentos ou em momentos de distração, para fazer compras em shoppings de alto padrão com os cartões roubados. Enquanto a moça realizava as compras, o rapaz circulava pela cidade com a vítima, em seu veículo.
Presa na última sexta-feira (09) em Curitiba (PR) com o apoio da polícia do Paraná, C.G.V., de 25 anos, era uma das Bonnies do grupo. Ela morava na capital paranaense com a filha, de 2 anos, e o marido, que não desconfiava de suas atuações em São Paulo. Sob o pretexto de visitar a família, encontrava-se com outras cinco mulheres (sendo quatro delas loiras e uma morena) e um homem que compunham a quadrilha, todos já identificados e procurados pela polícia.
De classe média ou alta, algumas das integrantes têm domínio em outros idiomas e já moraram em outros países. Além disso, eram organizados. Atuavam em duplas, sempre com W.O.G., de 36 anos, ao lado de uma das moças. Em alguns casos, uma segunda moça com a qual a vítima não teve contato, ficava responsável por usar o cartão bancário nas lojas.
“O grupo praticava o crime duas ou três vezes por dia. W.O.G. era acompanhado de uma determinada mulher pela manhã e trocava de tarde. Era feito um revezamento entre as moças para tentar esconder a ação deles”, explicou o delegado Alberto Pereira Matheus Júnior, titular da 3ª Delegacia Antissequestro da capital.
Segundo o delegado, a quadrilha atuava, no mínimo, desde 2008, realizando assaltos a apartamentos. A partir de 2009, o grupo passou a praticar sequestros relâmpagos, sempre tomando certos cuidados para atrapalhar as investigações. “Encontramos diversas dificuldades para identificar o grupo. Em um primeiro momento, acreditávamos que era um casal, mas as características da criminosa não coincidiam. Em depoimentos das vítimas, uma tinha tatuagem, mas a outra não tinha, por exemplo. Foi então que a polícia começou a entender que poderiam ser vários grupos, ou um grupo coeso”, afirmou o delegado.
Sempre armadas, as moças chegavam a agredir as mulheres sequestradas, com puxões de cabelo ou coronhadas. Ao todo, mais de 50 boletins de ocorrência são de casos creditados ao grupo.
Após mais de dois meses trabalhando com a hipótese de ser uma quadrilha especializada, os policiais identificaram todos os integrantes da quadrilha e prenderam C.G.V.
A história do casal Bonnie e Clyde original acaba de forma trágica. Após muitos roubos a bancos e assassinatos, eles são encurralados pela polícia norte-americana e morrem fuzilados. Nas telonas, a cena protagonizada por Warrem Beatty e Faye Dunaway (nos papéis da dupla) está entre as mais famosas. O final dos Bonnie e Clyde brasileiros não será tão violento, mas C.G.V., W.O.G. e suas loiras certamente não escaparão impunes.