domingo, 21 de outubro de 2012

Choque simula confusão para dar segurança em estádio

Torcedores corinthianos tentam passar pelo Choque


O cronômetro somava 38 minutos do segundo tempo de partida e o placar eletrônico apontava 3 a 1 para os argentinos do River Plate sobre o Corinthians. O resultado representava a eliminação corinthiana na fase semifinal da Copa Libertadores da América de 2006 em pleno estádio do Pacaembu, tomado pela torcida alvinegra. 

A desclassificação dos donos da casa, que saíram na frente do marcador e estavam garantindo a inédita presença na final do torneio (o primeiro jogo havia terminado 3 a 2 para os argentinos, em Buenos Aires), acirrou os ânimos de boa parte de uma das principais torcidas organizadas do clube. 

Sem nem ao menos esperar o apito final do arbitro chileno Carlos Chandía, uma multidão enfurecida aglomerou-se diante do portão de acesso ao campo e tentou de todas as maneiras, fosse com chutes ou socos, invadir o palco de jogo. 

A situação começou a perder o controle naquela noite de quinta-feira, 4 de maio, quando esses torcedores finalmente conseguiram romper o portão que lhes permitiria ter acesso aos jogadores. 

Para evitar a catástrofe iminente, os policiais militares do 2º Batalhão de Polícia de Choque Anchieta (BPChq) liderados pelo capitão Alexandre Vilariço Alves de Oliveira, de 38 anos, formaram um verdadeira muro humano para enfrentar a revoltada torcida. 

A partida foi encerrada pela arbitragem aos 40 minutos da etapa complementar, mas a batalha entre torcida organizada e Polícia Militar estendeu-se por muito mais tempo. 

O capitão Vilariço relembrou como ele e cerca 20 policiais se aglomeraram na passagem do portão e contiveram o avanço da massa. “Eu falava a todo o momento para a tropa para não se mexer, não sair daquela posição, porque se a gente saísse, a multidão iria invadir”, rememora. “Só que teve um momento em que não dava mais para suportar. Estávamos em 15 a 20 policias, então, precisamos utilizar granadas”, conta.

Nos momentos mais críticos do atrito, a prioridade, mais do que necessariamente impedir a entrada dos torcedores na praça esportiva, era garantir a integridade do PMs daquele muro humano. “A minha maior preocupação”, diz o capitão, “era com a tropa, para evitar que alguém se desgarrasse do grupo. Imagine um policial sozinho no meio daquele grupo da torcida organizada? Com certeza iria morrer”, afirma.

A situação quase aconteceu, mas foi evitada pelo capitão e seus comandados. “Alguns policiais chegaram a cair no chão, mas a gente conseguiu segura-los pela farda e puxá-los de volta para o grupo”, conta o capitão, que tem 20 anos de Polícia Militar.

“Em 12 anos de batalhão, com certeza, foi o momento mais marcante da minha carreira. Teve uma repercussão bastante positiva. Recebemos gratificações, medalhas e órgãos de imprensa internacional nos ligaram”, revela. 

O resgate a torcedor ferido nas arquibancadas é simulado
O preparo apresentado pelos oficiais do Choque não surgiu ao acaso, é resultado de treinamento e planejamento. Quem garante é o tenente Thiago Hideyuki Pedreira Chiyo, de 29 anos. 

“Fora a coragem dos policiais, tudo aquilo foi feito em cima de técnicas que a gente treina e aprende no dia a dia, que envolve o psicológico do policial, preparo físico, treinamento e consciência da técnica a ser empregada”, garante o tenente. “Aquilo foi resultado de um longo tempo de trabalho, não foi sorte”. 

Diariamente, os policiais do 2º Batalhão de Choque fazem treinamento de controle de distúrbios civis, seguido de educação física, no período da manhã. Após o almoço, recebem instruções teóricas em sala de aula, onde aprendem sobre legislação e analisam casos anteriores para constatar os aspectos que podem ser melhorados e as adequações necessárias. Os membros do 2º Batalhão de Choque atuam, além de partidas de futebol, em shows e retomada de presídios.

Ao término da parte teórica, desenvolvem mais atividades físicas, entre elas artes marciais e técnicas de imobilização “para o bom preparo do policial, que tem que subir muita escada, permanece muito tempo em pé e carrega equipamentos pesados”, explica o tenente Chiyo. 

Em dia de jogo ou show, a tropa apresenta-se no batalhão e realiza preleção, momento em que são passadas informações e orientações que já foram decididas em reuniões preparatórias dias antes. 

O risco da partida, os problemas que podem ser enfrentados, se houve confronto nas partidas anteriores, torcedores proibidos de entrar e lugares que são usados pelas organizadas para entrar com instrumentos proibidos são algumas das informações passadas pelos setores de inteligência da PM nesta etapa, antes de rumarem para o local do evento. 

Na sala de aula

No dia em que recebeu a reportagem do Portal da SSP, o tenente, que está no 2º Batalhão desde 2004, ministrou aula sobre balizamento, explicando à turma as formas corretas de posicionar as grades de contenção, evitando aglomerações e tumultos nos portões e catracas de entrada. 

Na apresentação de slides feita aos alunos, foram revisadas as características geográficas de cada um dos principais palcos futebolísticos da capital – Pacaembu, Morumbi, Parque Antártica e Canindé – já que, em cada local, o posicionamento das balizas é diferenciado. 

O diálogo constante pelos rádios para controlar o fluxo do publico em cada barreira policial, chamado de “sistema de válvulas”, é outro capítulo da aula. 

Na seqüência, o professor destaca a importância da boa educação com o torcedor. “O trato com o torcedor tem sido um ícone bastante conversado. Sempre procuro chamar a atenção do policial para que trate bem as pessoas”, afirma. 

Ele fez questão de apontar que os bons modos criam um laço de cumplicidade própria de amigo entre publico e Polícia Militar. “Essa abordagem mais pacífica não tira a autoridade, ela dá um amigo, um parceiro ao policial, que é o que queremos. Até que se prove o contrário, todos são pessoas de bem, que merecem bom tratamento de uma polícia técnica e especializada”, disse em aula. 

Por fim, passou noções de legislação, apontando os artigos da lei que permitem ao PM realizar revista pessoal nos torcedores, crianças inclusive, para coibir a entrada de matérias proibidos (“e se alguém perguntar?”).
 
Simulando problemas

Depois da aula, a turma foi ao pátio do batalhão onde um cenário já estava montado para simular a passagem de torcedores pelas balizas e pela revista. Alguns alunos, fazendo papel de pessoas do povo – com instrumentos musicais e gritos de guerra comuns em partidas de futebol, tentam passar pelas barreiras policiais com objetos ilícitos ou sem ingresso, testando as medidas corretas que os policiais militares devem tomar. 

Situações de atendimento médico nas arquibancadas e prisões feitas em meio a brigas são outros cenários recriados no local para testar a capacidade de reação da tropa. 

O comandante do 2º Batalhão de Choque, o tenente coronel José Balestieiro Filho, explica o que é feito quando é necessário prender um torcedor exaltado. “Os policias entram na confusão e dividem a massa para separar a briga, enquanto um policial já tem a missão específica de deter o líder do tumulto. Ele já entra sabendo o que vai fazer. Por isso, às vezes, a polícia demora um pouco para intervir, pois ela avalia a situação para identificar e sair com a pessoa detida”, afirma. “Isso soluciona o problema da briga, pois o grupo perde a euforia, perde o calor, já que quem causa a confusão é o líder”, explica. 

Até mesmo a forma adequada de como suportar a pressão externa e manter a formação da tropa – tão necessário no confronto com os torcedores do Pacaembu em 2006 - é treinado, segundo o capitão Vilariço. “Fazemos um treinamento diário em que é formada uma linha de policiais que devem manter suas posições independente do que estiver acontecendo, como pessoas jogando lata ou cuspindo”, afirma.  

O tenente Chiyo recordou de outro episódio, também durante uma partida de Libertadores, só que em 2005, em que foi necessário o uso de força por parte da PM para evitar o caos. 

“Na final da Libertadores entre São Paulo e Atlético-PR, muita gente ficou do lado de fora do estádio. Cerca de 10 mil pessoas. Houve uma tentativa de invasão em massa pelos portões”, relata o tenente, que ainda ressalta: “Não trabalhamos com sorte. O segredo não é a sorte, é o trabalho, treinamento, conhecimento e preparo do policial, sempre”, conclui. 



O tenente Chiyo passa orientações para a tropa
Torcedor sem ingresso é removido para não causar tumulto
Policiais do Choque procuram por objetos ilícitos durante revista
Instrumentos de torcidas organizadas também devem passar  por revista


Guilherme Uchoa

Fotos: Conflito - Rubens Cavallari/ Folha Imagem. Treinamento - Guilherme Uchoa

terça-feira, 26 de junho de 2012

Rapaz jovem, estudante, solteiro e turista morre mais no mar

Por Guilherme Uchoa


O estudante universitário Gustavo, de 20 anos, aproveitou o feriado prolongado para sair de São Caetano do Sul, onde mora, e aproveitar o sol com amigos na praia do Boqueirão, em Santos. 
Na manhã de um domingo ensolarado, Gustavo posicionou sua cadeira de praia e guarda-sol por volta das 9 horas e decidiu refrescar-se no mar santista, sem reparar, entretanto, na bandeira amarela fincada na areia, que alertava contra os possíveis riscos do mergulho. Mesmo não sabendo nadar, o estudante não se sentiu intimidado enquanto avançava no aparente tranqüilo mar, afinal de contas, nem havia consumido bebidas alcoólicas.   
Em determinado momento, o jovem percebeu que não conseguia voltar à faixa de areia. Mesmo com todo o esforço realizado, a forte correnteza continuava puxando Gustavo para longe da terra firme. 
Os guarda vidas, com auxílio de motos aquáticas, cortaram em alta velocidade as violentas ondas que se formavam na tentativa de resgatar a vítima mas, ao chegar perto de Gustavo, perceberam que nada mais poderia ser feito. 
A história acima é fictícia mas poderia perfeitamente acontecer em alguma praia do litoral de São Paulo, de acordo com estatísticas levantadas pelo Grupamento de Bombeiros Marítimos (GBMar) do Guarujá. 
GBMar também é responsável pela formação de guarda vidas 
Segundo os dados do grupamento especializado no resgate e salvamento aquático, entre 2008 e 2011, dos 426 afogamentos registrados nas praias dos 15 municípios que compõem o litoral paulista, 90% dos casos envolviam homens. Em 18% dos acidentes, a vítima era estudante e 82% das pessoas vieram do interior do estado ou da Grande São Paulo. 
Essas estatísticas são obtidas a partir do levantamento de informações realizadas pelos resgatistas ainda na areia e encaminhadas ao GBMar. A partir dessas informações, é possível descobrir o perfil aproximado das pessoas que se afogam. Com esse trabalho, foi possível para os bombeiros perceberem que grande parte dos acidentes envolviam pessoas de longe das cidades litorâneas, e não moradores locais. 
De 2008 a 2011, 279 vítimas vieram da Grande São Paulo (66%) e 62 de cidades do interior (16%). Os moradores do litoral representaram 11% dos casos (47). 
Os helicópteros Águia auxiliam no resgate a afogados  
Segundo o capitão Ricardo Pelliccione, responsável pelo curso de formação dos guarda vidas do GBMar, o fato de grande parte dos afogados serem de outros locais dificulta as campanhas de conscientização. “Fazemos campanhas preventivas nas rodoviárias, nas praças de pedágio que dão acesso ao litoral e balsas, entregando panfletos com dicas de segurança. Temos também campanha na mídia do litoral. Propagandas nas rádios, jornais e emissoras de TV, além de algumas campanhas educativas em escolas. Mas encontramos dificuldade, pois o publico que morre afogado não é o publico do litoral, é o de fora. São pessoas do interior ou da Grande São Paulo, um publico difícil de atingir”, disse.  
Apesar desse problema, o capitão ressalta a atuação dos guarda vidas no auxilio à prevenção de acidentes. “A primeira coisa que o guarda vida faz é identificar a praia, os riscos existentes e, então, sinalizá-la. Existe uma técnica que ele aprende durante o curso que permite identificar onde estão os buracos, as correntes e sinalizar com placas ou, se o risco for muito grande, isolar o local com fitas e placas para que ninguém entre. A partir daí, ele passa a direcionar o banhista, informando-o onde é melhor não entrar e entregando pulseiras de identificação para famílias com crianças”, explicou Pelliccioni. 
Principais características do afogado
Além de sexo, faixa etária e local de onde veio, as estatísticas levantadas pelo GBMar também identificam o estado civil e profissão, além de outros dados específicos como o horário em que a pessoa chegou à praia, de quem estava acompanhada, se sabia nadar, se ingeriu bebidas alcoólicas, as condições climáticas do dia e que bandeira sinalizava o local (branca, amarela ou vermelha). Foi possível constatar, por exemplo, que 40% dos afogamentos aconteceram em domingos, em 75% dos casos, o local estava sinalizado com bandeira amarela, que indica ao banhista que é necessário ter atenção, 21% das pessoas tinham idade entre 15 e 18 anos e 19 e 22 anos, e que 30% das pessoas ingeriram álcool antes de entrarem ao mar. 
Mesmo fora da alta temporada, os riscos são grandes para turistas. No domingo (17), uma criança morreu e outra desapareceu depois que o colchão inflável em que estavam virou, em Peruíbe. Juliane Cruz Brito Leão, de dois anos, estava com a família, que veio de Francisco Morato para passear na cidade. Seu irmão mais velho permanece desaparecido. 
Todas as informações obtidas pelos guarda vidas são utilizadas não apenas para compor os dados estatísticos do grupamento, mas também para auxiliar na apuração e investigação das causas do acidente. A partir desse levantamento feito pelo GBMar e do esforço realizado na prevenção de acidentes, é que os turistas estarão mais instruídos e sentirão mais seguros para aproveitar os finais de semana e feriados de sol no litoral do Estado.

Fotos: Guilherme Uchoa

domingo, 3 de junho de 2012

Bombeiros de SP ensinam ao país o salvamento marítimo

Por Guilherme Uchoa


Apesar do verão ter oficialmente terminado e as temperaturas estarem gradativamente caindo, a quarta-feira amanheceu ensolarada em Praia Grande, no litoral paulista, ambiente perfeito para banhistas passarem a tarde à beira mar, desfrutando o clima agradável em cadeiras de praia.


Mas o cenário local não era de banhistas, cadeiras de praia ou belas mulheres. Na verdade, o que se viu despertou a curiosidade das poucas pessoas que passavam pela faixa de areia da praia do bairro Ocian: 40 jovens uniformizados divididos em duas fileiras formadas de frente para o mar aguardam o pouso do helicóptero Águia 10 da Polícia Militar. 


Ao sinal de um dos membros da aeronave, um integrante de cada fila corre, entra no águia de aço, que decola rumo ao oceano. Depois de aproximadamente três minutos, o helicóptero retorna à areia trazendo os dois rapazes encharcados, pendurados por uma rede semelhante à usada por pescadores.


Nesses minutos que ficavam em mar aberto, a dupla pulava na água onde um deles fazia o papel de vítima e o outro tinha a função de prestar o resgate. Com auxilio da ‘rede de pesca’, os dois eram recolhidos pelo helicóptero e trazidos em segurança para terra.  Em alguns casos, a dupla era obrigada a ‘pagar’ flexões diante do grupo de instrutores por deslizes cometidos durante a operação.


Esse foi o treinamento que os alunos do Curso de Guarda Vidas do Grupamento de Bombeiros Marítimos (GBMar) do Guarujá estavam realizando nas areias do Ocian naquela tarde. A atuação do GBMar (ex “17º Grupamento de Bombeiros”) abrange todo o litoral paulista, sendo sua responsabilidade todos os 15 municípios litorâneos, desde Ubatuba, na divisa com o Rio de Janeiro, até Ilha Comprida, divisa com Paraná.


Curso de Guarda Vidas é o melhor do país


O curso ministrado pela unidade do Corpo de Bombeiros do Guarujá, especializada em resgates aquáticos, é um dos mais requisitados e respeitados no país. Durante as 222 horas de carga horária, o bombeiro aprende todas as técnicas de salvamento e resgate marítimo, além da utilização correta de diversos equipamentos necessários para essa função.


“Os alunos são profissionais do Corpo de Bombeiros que, quando chegam nesta unidade, precisam se especializar na profissão de guarda vidas. É realizado um curso de seis semanas onde são passadas noções de oceanografia, natação e educação física aplicada, prevenção e salvamento aquático, técnica básica de recuperação de afogado, conhecimentos elementares sobre o mar, relacionamento do guarda vidas com o público e noções sobre embarcações miúdas. Depois desse treinamento, ele está apto a trabalhar com o uniforme nas praias”, explicou o capitão Ricardo Pelliccioni, coordenador do curso de formação.

Pela qualidade apresentada no curso e nos treinamentos aplicados, o grupamento atrai diversos oficiais de outros locais, que buscam uma melhor formação.


“É um curso de bastante expressão no cenário nacional. Os Corpos de Bombeiros de diversos estados mandam integrantes para se formarem aqui e levarem o conhecimento adquirido para ser multiplicado. Já formamos integrantes do Ceara, Pernambuco e, no último curso, tivemos dois de uma corporação do Chile”, disse o capitão. “É comum ter pessoas de fora fazendo esse curso, que acabou se tornando uma referencia nacional no serviço de guarda vidas. Na turma atual, por exemplo, temos dois oficiais do corpo de bombeiros do Maranhão”, concluiu.


O tenente Diego Renier Cantanhêde Machado, de 23 anos, é um dos oficiais da atual turma vindos do estado nordestino. Segundo ele, que ao lado do também maranhense Jeferson Ferreira Serra, está na quinta semana do curso - o “know how” que São Paulo possui foi o grande motivo para sua vinda.


“São Paulo é referencia para o Brasil inteiro e tem as técnicas mais atualizadas de salvamento aquático. Por isso, o estado do Maranhão resolveu mandar dois oficiais para aprender um pouco mais e multiplicar esses conhecimentos”, afirmou Renier, que destaca a importância de membros de locais diversos participarem do curso paulista. “É muito interessante mandar oficiais de outros estados para São Paulo porque o intercâmbio e a trocas de experiência de farda engrandecem os dois estados”.


Opinião semelhante possui o tenente Rodrigo Fiorentini, responsável pela instrução aos alunos do curso durante a atividade em Praia Grande. “São Paulo já tem uma doutrina, um procedimento arraigado, então os outros estados, buscando novos conhecimentos, novas experiências, vêm verificar como é o trabalho aqui”, explica.


Assista ao treinamento realizado pelos alunos do CGV do GBMar



Fotos e vídeo: Guilherme Uchoa

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Pela primeira vez, Brasil de Mano vence e convence

Neymar comanda celebração do primeiro gol
Quando finalmente juntou em campo a nova geração de jogadores brasileiros, o técnico Mano Menezes obteve sucesso em seu objetivo – que ficou claro desde que assumiu o comando - de dar uma nova cara a seleção. Pelo menos foi esta a impressão que ficou após a goleada brasileira por 4 x 1 sobre os Estados Unidos, na noite de ontem (30), no FedEx Field, em Washington, Estados Unidos.

O receio de que o primeiro amistoso da série de jogos marcados pela CBF, contra a Dinamarca, no sábado passado (26), e vencido por 3 x 1, tenha sido apenas um lampejo de bom futebol não se confirmou na partida de ontem. Com oito jogadores sub-23 entre os titulares, a seleção verde-e-amarela deu provas de que tem condições de brigar pela sonhada medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Londres – única grande conquista que o país ainda não possuí no futebol.

É verdade que a tão esperada renovação canarinha começou com considerável atraso, mas, a dois meses da estréia nos Jogos Olímpicos, no dia 26 de julho ante Egito, o Brasil finalmente conseguiu realizar duas partidas seguidas com boa atuação e, principalmente, com equipe formada pelos nomes que estarão presentes em Londres. Dos 11 jogadores que começaram a partida, apenas Hulk, Marcelo e Thiago Silva estão acima da idade olímpica.

Neymar e Oscar comandam goleada

A partida contra os Estados Unidos começou com as mesmas características vistas no jogo anterior, contra Dinamarca: pressão na saída de bola e desarmes no campo de ataque. Foi assim que o Brasil começou melhor que o adversário norte americano.

Aos 11 minutos do primeiro tempo, Neymar (que ao lado do goleiro Rafael foram as alterações realizadas por Mano em relação ao último jogo) abriu o placar em cobrança de pênalti, após suposto toque de mão do zagueiro Onyewu em chute de Leandro Damião.

A pressão brasileira continuou com empenho dos atacantes em recuperar a bola ainda no campo de defesa norte americano e com Oscar municiando o ataque com bons passes e jogadas. Esse sufoco resultou no segundo gol. Aos 26 minutos, em cobrança de escanteio, Neymar cruzou para o capitão Thiago Silva escorar para o fundo da rede.

A partir do segundo tento, o Brasil diminuiu a pressão e deixou que os Estados Unidos criassem mais jogadas. A punição veio aos 44 minutos. Johnson recebeu ótimo passe em profundidade pela esquerda e já na linha de fundo cruzou para Gomez empurrar. 2 x 1 no placar da FedEx Field no intervalo.

O segundo tempo começou melhor que o primeiro, com as duas equipes criando oportunidades de gol. Mas foi o Brasil que mais uma vez marcou. Em lance similar ao marcado por Gomez, Neymar foi a linha de fundo pelo lado esquerdo do campo e rolou rasteiro para Marcelo, de carrinho, bater pro gol.

A boa vantagem no placar só foi possível graças a ótima atuação de Rafael. O goleiro santista que estreou com a camisa brasileira fez ao menos três intervenções cruciais em lances de perigo dos norte americanos. Com o sistema defensivo apresentando algumas falhas, especialmente nas jogadas aéreas, o arqueiro espalmou cabeçada de Bradley, que se livrou com facilidade da marcação brazuca, e contou com a sorte ao ver outra cabeçada de Bradley explodir no travessão.

Com presença mais freqüente dos Estados Unidos no ataque, o Brasil usou o contra ataque para dar números finais na partida. Aos 41 minutos, Marcelo fez belo lançamento para Alexandre Pato (que voltou bem de contusão) matar no peito e fuzilar as balizas de Howard.

Agora os comandados de Mano Menezes se preparam para o duelo contra o México, no próximo domingo (3), às 16 horas, em Dallas (EUA), com expectativa de que o brilho apresentado contra Dinamarca e Estados Unidos continue e traga de volta o ‘futebol arte’ pelo qual somos conhecidos mundo afora.

Confira as notas dos jogadores da seleção brasileira:

Pato mostrou estar recuperado com boa atuação
Rafael Cabral 8 – Atuação segura. Não teve culpa no gol e fez três defesas difíceis.
Danilo 5,5 – Desempenho regular. Gol norte americano surgiu em passe nas suas costas.
Thiago Silva 7,0 – Marcou de cabeça, mas apresentou falhas em jogadas aéreas.
Juan 6,0 – Desempenho discreto. Assim como Thiago Silva, falhou em bolas aéreas.
Marcelo 7,5 – Muito acionado, marcou um e fez lançamento para outro gol.
(Alex Sandro) S/N – Entrou no fim. Mal tocou na bola.
Sandro 6,0 – Auxiliou na pressão brasileira no primeiro tempo. Não comprometeu
Rômulo 6,5 – Formou boa dupla com Sandro, além de evitar gol certo do adversário.
Oscar 8 – Foi o principal articulador de jogadas do Brasil. Fez jus a camisa 10.
(Giuliano) S/N – Entrou no fim.
Neymar 8,5 – Muito caçado em campo. Fez um e participou de outros dois gols.
(Lucas) S/N – Mal tocou na bola.
Hulk 6,0 – Não foi tão bem quanto contra a Dinamarca. Mesmo assim, participou bastante.
(Casemiro) S/N – Idem Alex Sandro.
Leandro Damião 6,5 – Participou bastante no 1º tempo, mas perdeu boa chance de gol.
(Alexandre Pato) 7,5 – Em poucos minutos de jogo teve duas boas chances, fazendo um.


Guilherme Uchoa

Fotos: Agência Reuters e Divulgação/Nike
Vídeo: Rede Globo

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Magnano convoca seleção com todas as estrelas da NBA

Por Guilherme Uchoa

O técnico da seleção brasileira masculina de basquete, o argentino Rúben Magnano, convocou na manhã desta quinta-feira (17), 13 atletas que ficarão encarregados de representar o país no retorno da seleção verde amarela ao basquete dos Jogos Olímpicos. Após três edições dos Olimpiadas sem conquistar vaga, os comandados de Magnano carimbaram passaporte rumo a Londres com o segundo lugar obtido no pré-olímpico das Américas, disputado em 2011.

O mistério da convocação ou não de Leandrinho Barbosa e Nenê Hilário (jogadores de Indiana Pacers e Washington Wizards, respectivamente), que pediram dispensa a época do pré-olímpico e causaram insatisfação de Magnano, foi desvendado logo no início da entrevista coletiva concedida pelo técnico. A dupla, ao lado de Tiago Splitter (San Antonio Spurs) e Anderson Varejão (Cleveland Cavaliers), irá compor o quarteto de brasileiros que atua na NBA e que estarão presentes em Londres.

Segundo Rúben Magnano, a decisão de convocar Leandrinho e Nenê veio após conversa particular com a dupla. Porém, ele não revelou o que foi conversado. “O bate- papo que tive com eles fez com que desse outra chance. Só eles sabem o teor da conversa, são coisas pessoais”, afirmou o argentino.

Outro nome que esta na lista é Larry Taylor. O norte americano naturalizado brasileiro deveria ter participado do pré-olímpico de Mar Del Plata (Argentina) no ano passado, mas a demora na viabilização de sua naturalização impediu que fosse inscrito no torneio.

Para Magnano, Taylor - que joga no Bauru - e os outros nomes convocados não são definitivos, podendo ocorrer cortes e substituições. “Não sei se ele vai ficar [no grupo], mas vai ajudar muito no crescimento e preparação do país”, afirmou o técnico. “Larry me mostrou que vai jogar muito pela seleção”, finalizou.

O único corte que certamente acontecerá é de Rafael Hettsheimer, do CAI Zaragoza, da Espanha. O pivô que ganhou destaque por suas boas atuações no torneio de Mar Del Plata (média de 9,2 pontos e 4,1 rebotes por partida) passara por cirurgia no joelho esquerdo, com previsão de recuperação de pelo menos dois meses.

Além da convocação, foi anunciada a extensão do contrato de Ruben Magnano até 2016, quando será disputado os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. A Confederação Brasileira de Basquete (CBB) também aproveitou o evento para divulgar o cronograma de torneios preparatórios que o Brasil participara.

Nos dias 26, 27 e 28 de junho, torneio Eletrobrás em São Carlos, que contara com Grécia, Nova Zelândia e Nigéria. Nos dias 5, 6 e 7 de julho, a seleção joga contra Argentina, México e uma terceira seleção ainda indefinida, em Buenos Aires. Os mesmo adversários serão repetidos nos dias 11 e 12 de julho, desta vez em Foz do Iguaçu. No dia 16, o Brasil fará amistoso contra Estados Unidos, em Washignton e nos dias 21 e 22 de julho joga triangular em Estrasburgo (FRA) com França e Austrália.

A partir daí, a seleção prepara as malas para pousar em solos britânicos, onde busca resgatar um pouco do prestígio e reconhecimento internacional perdido durante os longos 16 anos em que não participou das Olimpíadas.

Lista

Armadores:

Marcelinho Huertas (Barcelona- ESP)
Larry Taylor (Bauru)
Raulzinho (Lagun Aro BGC – ESP)

Alas:

Leandrinho Barbosa (Indiana Pacers – EUA)
Marcelinho Machado (Flamengo)
Marquinhos Vinícius (Pinheiros)
Alex Garcia (Brasília)

Ala-Pivô:

Guilherme Giovannoni (Brasília)
Anderson Varejão (Cleveland Cavaliers -EUA)

Pivô:

Tiago Splitter (San Antonio Spurs –EUA)
Rafael Hettsheimeir (CAI Zaragoza – ESP)
Nenê Hilário (Washington Wizards –EUA)
Caio Torres (Flamengo)

Atrasos na apresentação

Agora, a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) devera se esforçar para que os compromissos dos jogadores por seus clubes não interfira na preparação do grupo. Tanto Tiago Splitter quanto Leandrinho Barbosa ainda estão na briga pelo título da NBA. Splitter e o San Antonio Spurs estão enfrentando os Los Angeles Clippers por uma vaga na final da conferencia Oeste. Já Barbosa, que atua no Indiana Pacers, disputa serie melhor de sete jogos contra o Miami Heat, do lado Leste.

Em caso de classificação, as finais de conferencia têm inicio prevista para 10 de junho, mesma data da apresentação dos convocados em São Paulo. Caso os confrontos sejam estendidos a sete partidas, a dupla jogará ate o dia 26 de junho, perdendo assim um dos torneios amistosos já marcados pela CBB.

O armador Marlecinho Huertas passa por situação semelhante. Seu clube, Barcelona, é favorito ao título da liga espanhola, que só termina em 16 de junho.

Fotos: Divulgação/CBB, Agencia Bom Dia e AP

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Santos e Flu colocam as duas mãos na taça

Guilherme Uchoa

O final de semana de decisões dos campeonatos estaduais pelo Brasil afora praticamente confirmou os campeões nos dois principais centros do futebol nacional. Tanto Santos quanto Fluminense só não levantarão as taças em São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente, caso um milagre aconteça.

O time da baixada santista, jogando com seu uniforme azul, enfrentou um corajoso time do Guarani, de Campinas, mas não teve dificuldade para confirmar seu favoritismo e registrar três gols a seu favor, contra nenhum assinalado pelo lado dos campineiros.

Mais uma vez, os destaques santistas ficaram por conta de sua dupla Neymar e Ganso. O atacante até teve uma atuação “normal” para seus padrões. No primeiro tempo não levou tanto perigo para a defesa adversária, mas, ainda assim, participou do primeiro tento do peixe. Na etapa final, mostrou seu faro artilheiro, fez um gol de oportunismo, escorando bola que sobrou depois da tentativa de Ganso de driblar o goleiro Emerson, e outro de habilidade - driblando o xerifão bugrino Domingos e tocando para o fundo das redes.

De quebra a estrela, de apenas 20 anos, chegou aos 104 gols com a camisa do Santos e igualou João Paulo e Serginho Chulapa – astros da equipe nas décadas de 70 e 80 – na artilharia santista pós-Pelé. No geral, Neymar é o 18º maior goleador do Peixe.

Já Paulo Henrique Ganso teve mais uma atuação digna do pesadíssimo número 10 que carrega as costas. O meia fez jus a sua comemoração do primeiro gol, regendo seu esquadrão como um verdadeiro maestro. Além de tirar o zero do placar aos 42 minutos do primeiro tempo com um belo chute, e participar do segundo gol, PH Ganso foi a principal fonte criativa do meio de campo. De acordo com números da Footstats, foram 50 passes certos em toda a partida, sendo muitos desses passes longos e, portanto, mais difíceis de realizar.

O Guarani chegou a levar algum perigo a defesa santista, contanto com bola na trave, mas sentiu falta dos contundidos Fumagalli e Oziel, do capitão Weillington Monteiro, além de perder o zagueiro titular Neto ainda no primeiro tempo, por contusão muscular.

Apesar da derrota, fica aos torcedores bugrinos a satisfação de realizar um destacável campeonato paulista. Os comandados de Vadão encerrarão sua participação no certame, no próximo domingo, com um aproveitamento de 10 vitórias em 11 jogos realizados em sua casa, no estádio Brinco de Ouro da Princesa. Na fase inicial ganhou oito jogos e perdeu apenas para o próprio Santos. Nas quartas de final, vitória sobre o Palmeiras por 3 a 2 e nas semi finais, triunfo no derby, contra Ponte Preta, por 3 a 1.


Rio de Janeiro

Em solos cariocas, O Fluminense levou um gol do Botafogo logo no início da peleja, aos oito minutos, com Renato. Mesmo assim, o tricolor não se intimidou e abusou de todo seu poderio ofensivo para virar e golear.

Provando ter um dos melhores elencos do país, o Flu empatou com um golaço de Fred, de bicicleta, virou e ampliou com Rafael Sobis, nem sempre titular, mas ótima opção de Abel Braga, e fechou a conta com o jovem Marcos Junior, 18 anos. Deco e Thiago Neves também estavam em tarde inspirada no Engenhão e foram fundamentais para derrubar a invencibilidade alvinegra que já durava 23 partidas.

O resultado foi conquistado em parte pelo recuo excessivo do Botafogo após abrir o marcador e em parte pela intensificação da marcação do Fluminense, impedindo que Fellype Gabriel, Maicosuel e Elkeson criassem boas oportunidades para que Loco Abreu finalizasse a meta de Diego Cavalieri.

Agora o Botafogo esta na mesma situação de Guarani: precisa ganhar por quatro gols de diferença para levantar o caneco, ou por três gols para levar a disputa para os pênaltis.

No futebol já vimos diversos casos de viradas antológicas, partidas ou títulos praticamente perdidas, mas que tiveram o cenário revertido. Tanto Santos quanto Fluminense protagonizaram essa situação na semifinal do campeonato brasileiro de 1995. O tricolor carioca de Renato Gaucho venceu o jogo de ida, no Rio, por 4 a 1. No jogo de volta, o Santos de Giovanni e Camanducaia fez o improvável, ganhando por 5 a 2 e garantindo vaga na final do torneio.

Portanto, os dois clubes devem voltar a campo no próximo domingo - dia das mães - com foco total na partida para evitar que as taças, tão próximas da Vila Belmiro e das Laranjeiras, não se percam no caminho e tomem rumos diferentes.

Demais estados

Se em São Paulo e Rio de Janeiro as faturas estão praticamente liquidadas, não se pode dizer o mesmo dos demais estados.

Exceção a Santa Catarina, onde o Avaí abriu confortável vantagem de três gols sobre o rival Figueirense, e Rio Grande do Norte, no qual o América sagrou-se campeão na vitória por 2 a 0 sobre ABC; Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Ceará, Paraná, Goiás e Pernambuco ainda vivem a expectativa de definir seu vitorioso.

América e Atlético ficaram no 1 a 1em Belo Horizonte, sendo que o segundo tem vantagem de empate na semana que vem. Em Caxias do Sul, o time local também empatou em 1 a 1 com o Internacional, que leva a vantagem do empate para o jogo de volta, em Porto Alegre. Na Bahia, o clássico Ba-Vi acabou em branco. O tricolor de Paulo Roberto Falcão jogará em casa a partida derradeira.

Pernambuco e Ceará também assistiram a clássicos sem gols. Sport leva vantagem para o segundo jogo contra o Santa Cruz e Fortaleza e Ceará realizam nova partida no estádio Presidente Vargas.

No paranaense, 2 a 2 entre Atlético e Coritiba. O time que vencer no Couto Pereira será campeão. Em caso de novo empate, decisão por pênaltis. O mesmo placar foi repetido em Goiás, no Serra Dourada. Goiás leva tem a possibilidade de empate sobre o Atlético para ser campeão no próximo domingo.

Na Paraíba, Sousa e Campinense fazem a final a partir de quarta-feira. No Distrito Federal, Ceilândia e Luziânia fazem a decisão. São Domingos e Confiança confirmaram presença na final sergipana, e no Pará, Cametá e Remo jogam hoje, no Mangueirão.


Fotos: Marcos Ribolli/ Globoesportes.com e Sérgio Moraes/Reuters

domingo, 15 de abril de 2012

Os meninos dos próximos 100 anos


O Santos aposta em sua tradição e investe pesado na formação de seus “pratas da casa”


Por Guilherme Uchoa

Pensar em Santos Futebol Clube é necessariamente pensar em futebol jovem, espontâneo e bonito. É quase uma filosofia, um mantra, que acompanha o clube, no mínimo, desde 1978, quando surgiram os “meninos da Vila’”. Esse nome é carinhosamente conferido a todos os garotos que chegam à equipe profissional, vindos das categorias de base. Desses meninos, espera-se sempre o melhor do futebol ofensivo, marca registrada do Santos.

Entretanto, as primeiras gerações dos “meninos da Vila” surgiram quase por acaso. No final da década de 1970, o time da Baixada passava por um período de fracos resultados, após perder suas principais peças do grande elenco de 60, liderado por Pelé. Carente de jogadores de alto nível, o então técnico Chico Formiga acrescentou jovens jogadores provenientes da base: Juary e Pita. Eles, liderados pelo veterano Clodoaldo, conquistaram o Campeonato Paulista de 1978. A partir de então, ficaram conhecidos como “meninos da Vila”.

A segunda geração veio para encerrar um jejum incômodo. O Santos estava há 18 anos sem conquistar um título de expressão, quando Diego (17 anos) e Robinho (18 anos) - acompanhados de outros atletas de 20 a 23 anos (Alex, Elano, Renato, entre outros) – foram trazidos para o elenco profissional pelas mãos de Emerson Leão, para surpreender a todos com irreverência e futebol habilidoso. O que era uma medida desesperada pela falta de verba para contratações deu resultado. O elenco de jovens ganhou o Campeonato Brasileiro de 2002 e recolocou o clube no cenário nacional.

Para evitar que esses momentos fiquem restringidos a lampejos de boa sorte, o clube investe, e investe pesado, em suas divisões de base. “O trabalho de base do Santos é referência no Brasil. Temos investido muito na contratação de novos profissionais. Por ano, são R$ 10 milhões de gastos em todas as categorias”, garante o gerente de futebol de base do clube, Luiz Fernando Moraes.

Luiz Fernando Moraes, gerente da base
O gerente também destaca os serviços oferecidos aos 240 atletas que o clube possui – divididos nas categorias pré-mirim, mirim, infantil, juvenil e júnior. “Todos, a partir do sub-11, recebem ajuda de custo de R$ 150,00 a R$ 300,00. Temos aulas de reforço escolar, alojamento para os garotos que não são de Santos, assistente social e psicóloga”, enumera.

A psicóloga citada por Luiz Fernando é Juliane Jellmayer Fechio, que desenvolve um trabalho especialmente direcionado para esportistas. “Jogador de futebol não tem tempo, eles treinam muito e têm uma vida corrida. Além disso, não tem paciência. Então, temos que fazer atendimentos rápidos. Acompanho jogos e treinos e, quando observo algo, converso rapidamente com o garoto no campo ou entre o vestiário e o ônibus. É uma técnica rápida e objetiva. Se resolver, ótimo. Se não resolver, vamos para uma sala, onde faço um atendimento mais demorado”, explica Juliane. Essa técnica é usada com garotos como Jubal e Geuvânio.

Jubal Rocha Mendes Junior, de 18 anos, e Geuvânio Santos Silva, de 19 anos, chegaram ao Santos de maneiras distintas. O primeiro veio de Goiás – onde chegou a atuar na equipe profissional do Vila Nova – com 17 anos e, desde então, tem sido aproveitado no time sub-20. O zagueiro marcou três gols na última edição da Copa São Paulo de Futebol Júnior – principal torneiro brasileiro da categoria.

Já Geuvânio é de Ilhas das Flores, em Sergipe, mas jogava no Jabaquara, em Santos. O lateral foi para o alvinegro após despertar atenção em um jogo entre o Jabuca e o Santos. “Comecei no Jabaquara com 13, 14 anos e, no Campeonato Paulista de 2008, fiz um belo jogo contra o Santos, marquei gol e os dirigentes ficaram interessados em mim e me trouxeram para o clube”, conta o garoto.

Jubal destaca estrutura do clube
Apesar de começos diferentes, a dupla concorda em um aspecto: a estrutura do Santos é determinante para formação de bons jogadores. “O Santos revela muitos jogadores pela estrutura e pela tradição que tem. Todo jogador, quando pequeno, quer jogar na base do Santos. Poucos times têm isso”, opina Jubal. “A estrutura ajuda bastante os garotos a fazer um trabalho bem feito”, corrobora Geuvânio.

Dentro da estrutura citada, está o Centro de Treinamentos Meninos da Vila. Inaugurado no dia 7 de agosto de 2006, este centro, que possui dois campos, foi construído como parte do investimento feito pelo clube em suas equipes menores. O dinheiro gasto neste centro deu resultados. A terceira geração, de Neymar e Ganso, foi criada neste CT e começou a despontar em 2009.

Desde então, o clube conquistou quatro títulos, sempre com participação decisiva da dupla e outros garotos como Alan Patrick, Alex Sandro, Felipe Anderson e Rafael. Em 2011, por exemplo, 49 dos 123 gols santistas marcados na temporada (39,8%) vieram dos pés de atletas formados na base.

Enquanto o futebol criado “em casa” continuar rendendo esses gols e títulos, o clube continuará com sua filosofia. “Tradicionalmente, o Santos tem um sistema histórico de formação de atletas. É um clube que sempre joga de maneira ofensiva e, quando não joga, geralmente se dá mal. Nossa obrigação é treinar e formar jogadores da maneira como o Santos está acostumado a ter sucesso”, sintetiza Luiz Fernando.


Matéria produzida para a edição especial do jornal universitário"Primeira Impressão", dos alunos do quarto ano de jornalismo da Universidade Santa Cecília.

Fotos: Ivan Baeta

terça-feira, 20 de março de 2012

Polícia Civil desvenda atuação da ‘gangue das loiras’

Por Guilherme Uchoa

Usando roupa provocante e andando de forma sedutora, “Bonnie” entra em uma loja de eletrônicos no shopping Ibirapuera e compra quatro iPads de R$ 2 mil cada, além de outros produtos de alto valor. A compra naquele dia foi de R$ 17.500. Os vendedores da loja, distraídos com a bela loira e diante da possibilidade de fazer uma boa venda, não verificam se o cartão de crédito apresentado pertencia mesmo à moça. Do lado de fora do shopping, dirigindo um carro roubado, estavam “Clyde” e sua vítima, a proprietária do veículo.
Era assim mesmo que agia a “gangue das loiras”: apostando na beleza de suas integrantes e usando os codinomes da famosa dupla de assaltantes a banco dos Estados Unidos do início da década de 30, que ficou eternizada nos cinemas em 1967, com o filme “Bonnie & Clyde – Uma rajada de balas”. Eles sequestravam mulheres desacompanhadas, de preferência loiras, em estacionamentos ou em momentos de distração, para fazer compras em shoppings de alto padrão com os cartões roubados. Enquanto a moça realizava as compras, o rapaz circulava pela cidade com a vítima, em seu veículo.
Presa na última sexta-feira (09) em Curitiba (PR) com o apoio da polícia do Paraná, C.G.V., de 25 anos, era uma das Bonnies do grupo. Ela morava na capital paranaense com a filha, de 2 anos, e o marido, que não desconfiava de suas atuações em São Paulo. Sob o pretexto de visitar a família, encontrava-se com outras cinco mulheres (sendo quatro delas loiras e uma morena) e um homem que compunham a quadrilha, todos já identificados e procurados pela polícia.
De classe média ou alta, algumas das integrantes têm domínio em outros idiomas e já moraram em outros países. Além disso, eram organizados. Atuavam em duplas, sempre com W.O.G., de 36 anos, ao lado de uma das moças. Em alguns casos, uma segunda moça com a qual a vítima não teve contato, ficava responsável por usar o cartão bancário nas lojas.
“O grupo praticava o crime duas ou três vezes por dia. W.O.G. era acompanhado de uma determinada mulher pela manhã e trocava de tarde. Era feito um revezamento entre as moças para tentar esconder a ação deles”, explicou o delegado Alberto Pereira Matheus Júnior, titular da 3ª Delegacia Antissequestro da capital.
Segundo o delegado, a quadrilha atuava, no mínimo, desde 2008, realizando assaltos a apartamentos. A partir de 2009, o grupo passou a praticar sequestros relâmpagos, sempre tomando certos cuidados para atrapalhar as investigações. “Encontramos diversas dificuldades para identificar o grupo. Em um primeiro momento, acreditávamos que era um casal, mas as características da criminosa não coincidiam. Em depoimentos das vítimas, uma tinha tatuagem, mas a outra não tinha, por exemplo. Foi então que a polícia começou a entender que poderiam ser vários grupos, ou um grupo coeso”, afirmou o delegado.

Sempre armadas, as moças chegavam a agredir as mulheres sequestradas, com puxões de cabelo ou coronhadas. Ao todo, mais de 50 boletins de ocorrência são de casos creditados ao grupo.
Após mais de dois meses trabalhando com a hipótese de ser uma quadrilha especializada, os policiais identificaram todos os integrantes da quadrilha e prenderam C.G.V.
A história do casal Bonnie e Clyde original acaba de forma trágica. Após muitos roubos a bancos e assassinatos, eles são encurralados pela polícia norte-americana e morrem fuzilados. Nas telonas, a cena protagonizada por Warrem Beatty e Faye Dunaway (nos papéis da dupla) está entre as mais famosas. O final dos Bonnie e Clyde brasileiros não será tão violento, mas C.G.V., W.O.G. e suas loiras certamente não escaparão impunes.