domingo, 15 de abril de 2012

Os meninos dos próximos 100 anos


O Santos aposta em sua tradição e investe pesado na formação de seus “pratas da casa”


Por Guilherme Uchoa

Pensar em Santos Futebol Clube é necessariamente pensar em futebol jovem, espontâneo e bonito. É quase uma filosofia, um mantra, que acompanha o clube, no mínimo, desde 1978, quando surgiram os “meninos da Vila’”. Esse nome é carinhosamente conferido a todos os garotos que chegam à equipe profissional, vindos das categorias de base. Desses meninos, espera-se sempre o melhor do futebol ofensivo, marca registrada do Santos.

Entretanto, as primeiras gerações dos “meninos da Vila” surgiram quase por acaso. No final da década de 1970, o time da Baixada passava por um período de fracos resultados, após perder suas principais peças do grande elenco de 60, liderado por Pelé. Carente de jogadores de alto nível, o então técnico Chico Formiga acrescentou jovens jogadores provenientes da base: Juary e Pita. Eles, liderados pelo veterano Clodoaldo, conquistaram o Campeonato Paulista de 1978. A partir de então, ficaram conhecidos como “meninos da Vila”.

A segunda geração veio para encerrar um jejum incômodo. O Santos estava há 18 anos sem conquistar um título de expressão, quando Diego (17 anos) e Robinho (18 anos) - acompanhados de outros atletas de 20 a 23 anos (Alex, Elano, Renato, entre outros) – foram trazidos para o elenco profissional pelas mãos de Emerson Leão, para surpreender a todos com irreverência e futebol habilidoso. O que era uma medida desesperada pela falta de verba para contratações deu resultado. O elenco de jovens ganhou o Campeonato Brasileiro de 2002 e recolocou o clube no cenário nacional.

Para evitar que esses momentos fiquem restringidos a lampejos de boa sorte, o clube investe, e investe pesado, em suas divisões de base. “O trabalho de base do Santos é referência no Brasil. Temos investido muito na contratação de novos profissionais. Por ano, são R$ 10 milhões de gastos em todas as categorias”, garante o gerente de futebol de base do clube, Luiz Fernando Moraes.

Luiz Fernando Moraes, gerente da base
O gerente também destaca os serviços oferecidos aos 240 atletas que o clube possui – divididos nas categorias pré-mirim, mirim, infantil, juvenil e júnior. “Todos, a partir do sub-11, recebem ajuda de custo de R$ 150,00 a R$ 300,00. Temos aulas de reforço escolar, alojamento para os garotos que não são de Santos, assistente social e psicóloga”, enumera.

A psicóloga citada por Luiz Fernando é Juliane Jellmayer Fechio, que desenvolve um trabalho especialmente direcionado para esportistas. “Jogador de futebol não tem tempo, eles treinam muito e têm uma vida corrida. Além disso, não tem paciência. Então, temos que fazer atendimentos rápidos. Acompanho jogos e treinos e, quando observo algo, converso rapidamente com o garoto no campo ou entre o vestiário e o ônibus. É uma técnica rápida e objetiva. Se resolver, ótimo. Se não resolver, vamos para uma sala, onde faço um atendimento mais demorado”, explica Juliane. Essa técnica é usada com garotos como Jubal e Geuvânio.

Jubal Rocha Mendes Junior, de 18 anos, e Geuvânio Santos Silva, de 19 anos, chegaram ao Santos de maneiras distintas. O primeiro veio de Goiás – onde chegou a atuar na equipe profissional do Vila Nova – com 17 anos e, desde então, tem sido aproveitado no time sub-20. O zagueiro marcou três gols na última edição da Copa São Paulo de Futebol Júnior – principal torneiro brasileiro da categoria.

Já Geuvânio é de Ilhas das Flores, em Sergipe, mas jogava no Jabaquara, em Santos. O lateral foi para o alvinegro após despertar atenção em um jogo entre o Jabuca e o Santos. “Comecei no Jabaquara com 13, 14 anos e, no Campeonato Paulista de 2008, fiz um belo jogo contra o Santos, marquei gol e os dirigentes ficaram interessados em mim e me trouxeram para o clube”, conta o garoto.

Jubal destaca estrutura do clube
Apesar de começos diferentes, a dupla concorda em um aspecto: a estrutura do Santos é determinante para formação de bons jogadores. “O Santos revela muitos jogadores pela estrutura e pela tradição que tem. Todo jogador, quando pequeno, quer jogar na base do Santos. Poucos times têm isso”, opina Jubal. “A estrutura ajuda bastante os garotos a fazer um trabalho bem feito”, corrobora Geuvânio.

Dentro da estrutura citada, está o Centro de Treinamentos Meninos da Vila. Inaugurado no dia 7 de agosto de 2006, este centro, que possui dois campos, foi construído como parte do investimento feito pelo clube em suas equipes menores. O dinheiro gasto neste centro deu resultados. A terceira geração, de Neymar e Ganso, foi criada neste CT e começou a despontar em 2009.

Desde então, o clube conquistou quatro títulos, sempre com participação decisiva da dupla e outros garotos como Alan Patrick, Alex Sandro, Felipe Anderson e Rafael. Em 2011, por exemplo, 49 dos 123 gols santistas marcados na temporada (39,8%) vieram dos pés de atletas formados na base.

Enquanto o futebol criado “em casa” continuar rendendo esses gols e títulos, o clube continuará com sua filosofia. “Tradicionalmente, o Santos tem um sistema histórico de formação de atletas. É um clube que sempre joga de maneira ofensiva e, quando não joga, geralmente se dá mal. Nossa obrigação é treinar e formar jogadores da maneira como o Santos está acostumado a ter sucesso”, sintetiza Luiz Fernando.


Matéria produzida para a edição especial do jornal universitário"Primeira Impressão", dos alunos do quarto ano de jornalismo da Universidade Santa Cecília.

Fotos: Ivan Baeta