sexta-feira, 21 de junho de 2013

Spurs tenta, mas não tira Bi de Miami

Por Guilherme Uchoa

O ex-jogador Bill Russell, de 79 anos, é presença garantida para os jogos de todas as séries finais da NBA, já que é dele a responsabilidade de entregar um troféu que leva seu nome para aquele jogador que for eleito o mais valioso das finais. Ele provavelmente já tinha em mente, enquanto assistia a sétima partida entre Miami Heat e San Antonio Spurs, realizada nesta quinta-feira (20), que o agraciado com o premio de 2013 seria o mesmo com quem se encontrara no ano anterior. 

LeBron James e as taças de MVP das finais e de campeão da NBA
LeBron James estava ensandecido, anotou 37 pontos, pegou 12 rebotes, e foi crucial para a vitória por 95 a 88 do seu Miami Heat, conquistando assim o seu bicampeonato seguido e o terceiro título da franquia de Flórida.   

Ao receber o troféu de MVP (jogador mais valioso, na sigla em inglês) das finais das mãos de Russell, James também repetiu a dobradinha título/MVP do ano passado e entrou para o seletíssimo hall de jogadores que conseguiram a façanha por pelo menos duas vezes consecutivas – o próprio Bill Russell, em três anos seguidos, e Michael Jordan em duas sequencias de três temporadas, integram o restrito grupo.

O jogo

O San Antonio Spurs bem que tentou, dificultou ao máximo a vida do Miami Heat e deu pinta em diversos momentos de que levantaria pela quinta vez na história de sua franquia a taça Larry O’Brian. Mas não teve jeito. Depois de uma série final marcada por muito equilíbrio, erros de Manu Ginobili e Tim Duncan em momentos decisivos facilitaram a vida dos comandados de Erik Spoelstra, e fizeram com que a franquia texana perdesse uma série final pela primeira vez em sua história. 

Após um jogo 6 recheado de emoções e que só foi definido na prorrogação, o Miami Heat não pode contar com seus heróis da partida anterior. Ray Allen – que anotou uma cesta de 3 imprescindível, que levou o sexto jogo para o tempo extra – e Chris Bosh,  que pegou rebotes e deus tocos fundamentas na mesma partida, ficaram zerados na noite desta quinta-feira.

James, Wade e Bosh, o Big 3 de Miami, celebram o bicampeonato 
Só que a inoperância desses coadjuvantes não fez falta para o torcedor que lotou a American Airlines Arena, já que LeBron James assumiu o controle do jogo e, ao lado de Dwyane Wade, foi responsável por 60 dos 95 pontos do time.

Pelo lado de San Antonio, o aspecto físico parece ter pesado contra. Tim Duncan mais uma vez liderou a equipe nas estatísticas (foi o cestinha de seu time com 24 pontos, além de 12 rebotes), mas falhou nos últimos minutos de partida ao perder uma cesta embaixo do aro que empataria o confronto. O erro abalou o pivô e seus companheiros, que voltaram irreconhecíveis e visivelmente derrotados depois do tempo técnico pedido.

Aos 37 anos, Duncan continua jogando em alto nível por conta de sua técnica refinada e perfeição de movimentos, mas mostra sinais de que seu corpo não esta bem e que já não é mais tão forte e vigoroso quanto em anos passados. Em função disso, o astro dos Spurs ver aumentar as especulações sobre sua possível aposentadoria, algo que foi muito questionado pela mídia especializada durante a realização da série final.

Duncan fez o que pode, mas não conseguiu a taça
Já o argentino Ginobili numericamente também não foi mal: 18 pontos e cinco assistências. Só que, a exemplo de seu companheiro, falhou por duas vezes nos minutos derradeiros, facilitando a conquista do rival.  O argentino também já havia deixado a desejar nas partidas anteriores e, não a toa, vinha sendo utilizado apenas como opção de banco por Gregg Popovich.

Para os fãs brasileiros do esporte da bola laranja, ficou a frustração por ver novamente um compatriota bater no aro. Assim como aconteceu com Anderson Varejão e seu Cleveland Cavaliers na temporada 2006/07, dessa vez foi o pivô Tiago Splitter que representou o Brasil na decisão do certame, sem obter sucesso.

Agora resta para a franquia texana saber se, mesmo envelhecida, ainda terá forças para brigar por mais títulos.

A única certeza para as próximas temporadas é de que Bill Russell certamente se encontrara com LeBron James em diversas oportunidades iguais as vividas na noite deste 20 de junho, no American Airlines Arena. 

Fotos: Reuters e Getty Images (Tim Duncan)

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Spurs Globalizado

Por Guilherme Uchoa

Empatando a série final da NBA e precisando vencer a última partida contra o Miami Heat para conquistar o quinto título da franquia, o San Antonio Spurs de Gregg Popovich pode entrar também para a história da liga como equipe campeã do século XXI com mais estrangeiros em seu elenco.

O "gringo" Tim Duncan esteve presente em todos os quatro títulos dos Spurs
Caso consiga derrotar os comandados de Erik Spoelstra na derradeira partida que será disputada na American Airlines Arena, casa dos Heats, na próxima quinta-feira (20), nove jogadores estrangeiros da equipe texana poderão colocar em seus dedos o anel de campeão.


Além do renomado trio Tim Duncan (nascido nas Ilhas Virgens), Manú Ginobili (natural de Buenos Aires, Argentina) e Tony Parker (francês), outros seis atletas do elenco de San Antonio são gringos: Aron Baynes e Patty Mills, da Austrália, Nando de Colo e Boris Diaw, da França, Cory Joseph, do Canadá, e o brasileiro Tiago Splitter.

Com isso, dos 15 integrantes que Popovich tem a disposição em seu elenco, 60% não são nascidos em solos americanos. A possível conquista da atual temporada faria com que os Spurs superassem suas próprias marcas de duas temporadas, quando foram campeões com seis atletas estrangeiros em seus cartéis.

Alguns deles, inclusive, já estão acostumados em conquistar títulos em San Antonio. O argentino Ginobili e o francês Parker já ganharam três anéis pelos Spurs, enquanto que Duncan esteve presente em todas as quatro conquistas da franquia.

Por outro lado, o atual campeão Miami Heat não segue a filosofia do rival e chega a sua terceira final consecutiva contando apenas com Joel Anthony, do vizinho Canadá, dentre seu elenco caseiro.

O argentino Ginobili durante jogo 6 das finais contra Miami
Mas o fato de contar com “mão de obra” estrangeira para montar seus principais times não é novidade para os torcedores dos Spurs. Das 12 temporadas de liga de basquete mais forte do mundo realizadas no século 21, San Antonio sempre contou com, no mínimo, quatro jogadores de fora. No primeiro título da franquia texana no século, na temporada 2002/03, o chinês Mengke Bateer somou-se ao Big 3 para bater o New Jersey Nets na decisão do certame.

Na temporada 2004/05, novamente ao lado do histórico trio, estavam os eslovenos Radoslav Nesterovic e Beno Udrih, além do neo zelandês Sean Marks. A decisão daquele ano foi contra o Detroit Pistons. Já em 2006/07, na marcante varrida por 4 a zero sobre o Cleveland Cavaliers, então time de LeBron James, Duncan, Ginobili e Parker estavam acompanhados do argentino Fabricio Oberto, o holandês Francisco Elson e outra vez de Beno Udrih.

Outras equipes também seguiram essa tendência e levantaram a taça mais almejada do esporte da bola laranja contando com grande participação de jogadores de outros países. Com maior destaque, o Dallas Marvericks da temporada 2010/11 que, liderado pelo alemão Dirk Nowitzki , ganhou o troféu Larry O’Brien contando ao todo com cinco jogadores de outras nacionalidades. O Los Angeles Lakers também precisou de ajuda de quatro estrangeiros (tendo o espanhol Pau Gasol maior destaque entre eles) para somar o título da temporada 2008/09 em sua extensa lista de conquistas.


O brasileiro Splitter completa a "legião" de nove estrangeiros dos Spurs
Dos 12 elencos campeões do século atual, somente dois contavam apenas com norte americanos em suas escretes: o Miami Heat de 2005/06 e o Boston Celtics de 2007/08.

É claro que não se trata de uma regra ter jogadores de outros países para formar uma franquia campeã, mas as estatísticas comprovam que aproveitar a era globalizada em que vivemos para buscar bons valores ao redor do mundo e construir verdadeiras legiões de estrangeiros na liga, tem ajudado em muito os times norte americanos em seus sonhos de atingir o topo da NBA.

Confira a listas de estrangeiros em cada um dos 12 campeões do século XXI:

Temporada 2011/12 - Miami Heat

- Joel Anthony (Canadá)

- Ronny Turiaf (França)

Temporada 10/11 - Dallas Marvericks

- José Juan Barea (Porto Rico)

- Rodrigue Beabois (França)

- Ian Mahinmi (França)

- Dirk Nowitzki (Alemanha)

- Peja Stojakovic (Servia)

Temporada 2009/10 - Los Angeles Lakers

- Pau Gasol (Espanha)

- D.J. Mbenga (Belgica)

- Sasha Vujacic (Eslovenia)

Temporada 2008/09 - Los Angeles Lakers

- Pau Gasol (Espanha)

- D.J. Mbenga (Belgica)

- Sasha Vujacic (Eslovenia)

- Sun Yue (China)

Temporada 2007/08 - Boston Celtics

Não havia estrangeiros no elenco

Temporada 2006/07 - San Antonio Spurs

- Tim Duncan (Ilhas Virgens)

- Francisco Elson (Holanda)

- Manu Ginóbili (Argentina)

- Fabricio Oberto (Argentina)

- Tony Parker (França)

- Beno Udrih (Eslovenia)

Temporada 2005/06 - Miami Heat 

Não havia estrangeiros no elenco

Temporada 2004/05 - San Antonio Spurs

- Tim Duncan (Ilhas Virgens)

- Manu Ginóbili (Argentina)

- Sean Marks (Nova Zelândia)

- Radoslav Nesterovic (Eslovênia)

- Tony Parker (França)

- Beno Udrih (Eslovênia)

Temporada 2003/04 - Dretroit Pistons

- Darko Milicic (Servia)

- Mehmet Okur (Turquia)

Temporada 2002/03 - San Antonio Spurs

- Tony Parker (França)

- Manú Ginobili (Argentina)

- Tim Duncan (Ilhas Virgens)

- Mengke Bateer (China)

Temporada 2001/02 - Los Angeles Lakers

- Slava Medvedenko (Ucrânia)

- Rick Fox (Canadá)

Temporada 2000/01 - Los Angeles Lakers

-Rick Fox (Canadá)

-Slava Medvedenko (Ucrânia)

Fotos: Brendan Smailowski/ AFP (Duncan) e Getty Images (Ginobili e Splitter) 

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Jordan x LeBron

Apesar de ter sido um jogador brilhante, Dennis Rodman – cinco títulos na NBA – sempre chamou mais atenção por suas polêmicas e excentricidades, do que por seu jogo. Mesmo após pendurar seu par de tênis, ele mostrou outra vez que ainda tem a língua afiada e capitalizou mais uma declaração forte para sua infindável lista. 
Jordan aposentou-se na mesma temporada que LeBron estreou na NBA
Dessa vez, o falastrão afirmou que a maior estrela do basquete norte americano no momento, LeBron James, 28, não seria tudo isso caso tivesse jogado em sua época. Nas próprias palavras do showman, “se LeBron jogasse no final dos anos 80, ou início dos anos 90, ele seria apenas um jogador mediano”.
Ainda aproveitando o momento, Dennis Rodman – que defendeu as equipes do Detroit Pistons, San Antonio Spurs, Dallas Marvericks, Los Angeles Lakers e Chicago Bulls – falou de seu companheiro de Chicago, a lenda Michael Jordan. “Se ele [Michael Jordan] jogasse o jogo de hoje com 28 anos, teria média de 40 pontos por jogo ou mais. Ele teria facilmente essa média”, disse.
Depois, o ex-jogador amenizou o tom. “[LeBron James] é um grande jogador, não me interpretem mal. Mas para mim, o Scottie Pippen e o Michael Jordan são os dois melhores que alguma vez vi”, disse, citando a dupla com quem conquistou três anéis entre 1996 e 1998. Por fim, desabafou. “Estou farto de ver pessoas comparando o Michael Jordan com LeBron”.
As declarações conferidas durante um programa norte americano na última sexta-feira (7) parecem ser apenas mais um arroubo exacerbado de Rodman, mas despertam um debate interessante. É justo comparar atletas que atuaram em momentos distintos do esporte? Até onde é correto colocar dois atletas com 22 anos de diferencia (um encerrou a carreira na mesma temporada em que o outro começou) lado a lado?
 Rodman na época dos Bulls e sua polêmica declaração
A verdade é que as duas décadas citadas pelo inquieto aposentado produziram alguns dos maiores nomes que já desfilaram pelas quadras do esporte da bola laranja. Larry Bird, Kareem Abdul-Jabbar, Magic Johnson, Isiah Thomas, Julius Erving, Moses Malone, Karl Malone, além de Jordan e muitos outros emprestaram seu brilho a liga.
Em contrapartida, o atual momento da NBA é de carência de grandes nomes e de intensificação da bipolaridade LeBron/Kobe. Fora a dupla, sobram pouquíssimos nomes com capacidade para entrar nesse hall (Derrick Rose e Kevin Durant, por exemplo).
Mas até ai, querer comparar dois jogadores que atuaram em momentos totalmente distintos da modalidade requer um nível de imaginação e subjetividade praticamente impossível de atingir.
Muitas características mudaram no esporte durante os anos, que fizeram com que a forma de praticar a modalidade seja totalmente diferente daquela utilizada nas décadas de 80 e 90. Por isso, a comparação é inviável tanto da parte de Dennis Rodman quanto da parte das pessoas que citou.
Comparar Jordan com LeBron é querer reduzir o que cada um já fez (ou ainda faz) para o esporte. Cada um em seu respectivo tempo.

Quadro comparativo de títulos e premiações entre LeBron, Jordan e Kobe aos 27 anos

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Mais uma cesta do Mão Santa

Oscar Schmidt, 55 anos, sempre foi do tipo emotivo, com os sentimentos à flor da pele e sem vergonha de demonstrar o que sentia através das lágrimas – seja de felicidade ou de tristeza.
Mas, após 29 anos de carreira e de um currículo extenso, que inclui uma medalha de bronze no mundial de 1978, nas Filipinas, e um bronze e um ouro em Jogos Pan Americanos (1979 em Porto Rico e 1987 nos Estados Unidos, respectivamente), além de possuir o recorde de maior cestinha do basquete mundial, com quase 50 mil pontos anotados, o ex-jogador foi a público por meio da imprensa para falar de sua nova batalha contra um antigo rival. O câncer. 
Sem as costumeiras lágrimas e com um discurso confiante e seguro, o Mão Santa abriu as portas de sua casa e de sua intimidade para, ao invés de permanecer recluso alegando privacidade, servir de inspiração e incentivar a importância de se abordar o assunto.
Aos veículos de imprensa, contou como está sua recuperação depois de ser levado pela segunda vez a uma sala cirúrgica com o intuito de remover um tumor maligno que se desenvolveu em seu cérebro. Há dois anos, o mesmo procedimento já havia sido feito, porém, o tumor que antes era de grau dois em  uma escala de gravidade que vai até quatro, desenvolveu-se para o terceiro grau.
O que pesa em favor do craque é que, segundo neurologistas, a remoção da região onde a mazela surgiu (parte frontal esquerda do cérebro) não causa sequelas representativas, apenas pequenos distúrbios de comportamento. O próprio Oscar, com bom humor, contou que desde o início do tratamento percebeu ter perdido o gosto por refrigerantes.
O trajeto para Schmidt – que na opinião deste cronista está apenas atrás de Wlamir Marques e Amaury Pasos na relação dos maiores nomes da história do basquete brasileiro – consiste em sessões de radioterapia até julho, seguidas de sessões de quimioterapia, estas sem previsão para encerrar.
Apesar disso, o exemplo de superação em quadra que Oscar usa como motivação em seu novo desafio, já esta na ponta da língua: a histórica conquista do Pan de Indianápolis, em 1987, quando liderou o Brasil na vitória diante dos Estados Unidos, donos da festa. A vitória verde e amarela por 120 x 115 na decisão do certame foi o primeiro revés que os norte-americanos já haviam sofrido jogando em seu país.
Há 26 anos, o Brasil conquistava o título do Pan-Americano de 1987

Além disso, o ex-jogador tem outro motivo para continuar confiante, já que em setembro deste ano ingressará no Hall da fama do basquete mundial.
Portanto, o cara que durante décadas foi sinônimo de longevidade esportiva, garra e busca constante pela perfeição, serve atualmente de modelo para outra causa nobre. Hoje, Oscar Schmidt mostra como fazer uma cesta de três diante da marcação implacável do câncer, e com muito otimismo deixa seu recado: “esse tumorzinho pegou o cara errado!”.

Foto: Joel Silva/Folhapress e Arquivo/ CBB