terça-feira, 26 de junho de 2012

Rapaz jovem, estudante, solteiro e turista morre mais no mar

Por Guilherme Uchoa


O estudante universitário Gustavo, de 20 anos, aproveitou o feriado prolongado para sair de São Caetano do Sul, onde mora, e aproveitar o sol com amigos na praia do Boqueirão, em Santos. 
Na manhã de um domingo ensolarado, Gustavo posicionou sua cadeira de praia e guarda-sol por volta das 9 horas e decidiu refrescar-se no mar santista, sem reparar, entretanto, na bandeira amarela fincada na areia, que alertava contra os possíveis riscos do mergulho. Mesmo não sabendo nadar, o estudante não se sentiu intimidado enquanto avançava no aparente tranqüilo mar, afinal de contas, nem havia consumido bebidas alcoólicas.   
Em determinado momento, o jovem percebeu que não conseguia voltar à faixa de areia. Mesmo com todo o esforço realizado, a forte correnteza continuava puxando Gustavo para longe da terra firme. 
Os guarda vidas, com auxílio de motos aquáticas, cortaram em alta velocidade as violentas ondas que se formavam na tentativa de resgatar a vítima mas, ao chegar perto de Gustavo, perceberam que nada mais poderia ser feito. 
A história acima é fictícia mas poderia perfeitamente acontecer em alguma praia do litoral de São Paulo, de acordo com estatísticas levantadas pelo Grupamento de Bombeiros Marítimos (GBMar) do Guarujá. 
GBMar também é responsável pela formação de guarda vidas 
Segundo os dados do grupamento especializado no resgate e salvamento aquático, entre 2008 e 2011, dos 426 afogamentos registrados nas praias dos 15 municípios que compõem o litoral paulista, 90% dos casos envolviam homens. Em 18% dos acidentes, a vítima era estudante e 82% das pessoas vieram do interior do estado ou da Grande São Paulo. 
Essas estatísticas são obtidas a partir do levantamento de informações realizadas pelos resgatistas ainda na areia e encaminhadas ao GBMar. A partir dessas informações, é possível descobrir o perfil aproximado das pessoas que se afogam. Com esse trabalho, foi possível para os bombeiros perceberem que grande parte dos acidentes envolviam pessoas de longe das cidades litorâneas, e não moradores locais. 
De 2008 a 2011, 279 vítimas vieram da Grande São Paulo (66%) e 62 de cidades do interior (16%). Os moradores do litoral representaram 11% dos casos (47). 
Os helicópteros Águia auxiliam no resgate a afogados  
Segundo o capitão Ricardo Pelliccione, responsável pelo curso de formação dos guarda vidas do GBMar, o fato de grande parte dos afogados serem de outros locais dificulta as campanhas de conscientização. “Fazemos campanhas preventivas nas rodoviárias, nas praças de pedágio que dão acesso ao litoral e balsas, entregando panfletos com dicas de segurança. Temos também campanha na mídia do litoral. Propagandas nas rádios, jornais e emissoras de TV, além de algumas campanhas educativas em escolas. Mas encontramos dificuldade, pois o publico que morre afogado não é o publico do litoral, é o de fora. São pessoas do interior ou da Grande São Paulo, um publico difícil de atingir”, disse.  
Apesar desse problema, o capitão ressalta a atuação dos guarda vidas no auxilio à prevenção de acidentes. “A primeira coisa que o guarda vida faz é identificar a praia, os riscos existentes e, então, sinalizá-la. Existe uma técnica que ele aprende durante o curso que permite identificar onde estão os buracos, as correntes e sinalizar com placas ou, se o risco for muito grande, isolar o local com fitas e placas para que ninguém entre. A partir daí, ele passa a direcionar o banhista, informando-o onde é melhor não entrar e entregando pulseiras de identificação para famílias com crianças”, explicou Pelliccioni. 
Principais características do afogado
Além de sexo, faixa etária e local de onde veio, as estatísticas levantadas pelo GBMar também identificam o estado civil e profissão, além de outros dados específicos como o horário em que a pessoa chegou à praia, de quem estava acompanhada, se sabia nadar, se ingeriu bebidas alcoólicas, as condições climáticas do dia e que bandeira sinalizava o local (branca, amarela ou vermelha). Foi possível constatar, por exemplo, que 40% dos afogamentos aconteceram em domingos, em 75% dos casos, o local estava sinalizado com bandeira amarela, que indica ao banhista que é necessário ter atenção, 21% das pessoas tinham idade entre 15 e 18 anos e 19 e 22 anos, e que 30% das pessoas ingeriram álcool antes de entrarem ao mar. 
Mesmo fora da alta temporada, os riscos são grandes para turistas. No domingo (17), uma criança morreu e outra desapareceu depois que o colchão inflável em que estavam virou, em Peruíbe. Juliane Cruz Brito Leão, de dois anos, estava com a família, que veio de Francisco Morato para passear na cidade. Seu irmão mais velho permanece desaparecido. 
Todas as informações obtidas pelos guarda vidas são utilizadas não apenas para compor os dados estatísticos do grupamento, mas também para auxiliar na apuração e investigação das causas do acidente. A partir desse levantamento feito pelo GBMar e do esforço realizado na prevenção de acidentes, é que os turistas estarão mais instruídos e sentirão mais seguros para aproveitar os finais de semana e feriados de sol no litoral do Estado.

Fotos: Guilherme Uchoa

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