domingo, 12 de janeiro de 2014

O legado do Pelé europeu

Por Guilherme Uchoa

Como todos já sabem, o mundo da bola chorou a perda, na madrugada do último domingo (5), de um dos seus melhores representantes: Eusébio. O craque da seleção portuguesa e do Benfica foi vítima de uma parada cardiorrespiratória em sua casa, em Lisboa, e deixou não só os torcedores lusitanos, mas milhões de admiradores ao redor do mundo, órfãos de mais uma referência histórica do futebol.

Estátua de Eusébio no Estádio da Luz, casa do Benfica
Dentre toda a constelação do futebol, Eusébio figura naquele seleto grupo de estrelas que possuem um brilho mais intenso, mais genial. Divide espaço com Pelé, Maradona, Cruyff, Di Stéfano, Bobby Charlton, Zidane e alguns outros poucos astros de brilho eterno.

Ao lado de Luis Figo e Cristiano Ronaldo, Eusébio da Silva Ferreira está entre os principais nomes que a seleção portuguesa já teve. A diferença é que, ao contrário da dupla, ele era moçambicano. Nasceu em Lourenço Marques (atual Maputo, capital de Moçambique), e como o país foi - até 1975 - colônia de Portugal, Eusébio foi “adotado” pelos lusitanos.

Seu início no futebol se deu no Sporting de Lourenço Marques, uma filial do chará mais conhecido, de Lisboa. Suas habilidades, entretanto, despertaram a atenção do rival Benfica, e depois de uma disputa judicial de seis meses, o lado vermelho da cidade levou a melhor, contratando o jovem de 18 anos.

A partir de então, os números falam por si só. Foram 733 gols em 745 jogos ao longo da carreira, sendo que capitalizou 727 gols em 715 partidas vestindo a camisa do Benfica. Foi 11 vezes campeão português e cinco vezes vencedor da Taça de Portugal. Além disso, foi bicampeão europeu em 1961 e 1962, quebrando a hegemonia dos espanhóis do Real Madrid, e, em 1965, foi eleito melhor jogador da Europa pela revista “France Football”.

O craque deu uma última volta no estádio onde brilhou
Por duas vezes, enfrentou Pelé. Na primeira, na disputa do Mundial interclubes de 1962, seu Benfica levou a pior e foi goleado por 5x2 em Lisboa pelo esquadrão do Santos. Na segunda chance, desta vez na Copa do Mundo de 1966, o Pantera Negra teve mais sorte e ajudou sua seleção portuguesa com dois gols na partida que marcou a eliminação do Brasil – o placar final foi 3x1.

Mas foi na Copa de 66 que Eusébio atingiu o maior feito de sua carreira. Ao lado de outras craques como Simões e Coluna, deu ao seu país uma incrível terceira colocação, sendo eliminados apenas na semifinal pela Inglaterra, anfitriões do certame. De quebra, ele ainda foi o artilheiro da competição, com nove gols. Até hoje, nem mesmo Figo ou Cristiano Ronaldo conseguiram repetir o feito, e a principal conquista de Portugal após a geração Eusébio foi o vice-campeonato da Eurocopa de 2004, conquistada pela Grécia.

Não seria justo dizer que Eusébio é, unanimemente, o maior jogador português de todos os tempos, afinal de contas, os adeptos de Cristiano Ronaldo têm bons argumentos para garantir o craque do Real Madrid nesse posto. Apesar disso, não há como negar que Eusébio deu aos portugueses algo de valor inestimável: a sensação de que podem vencer, de que são capazes de enfrentar as maiores potencias do futebol mundial de igual para igual.


Esse foi, sem sombra de dúvidas, o maior legado que o Pelé europeu deixou. 

Fotos: Reuters

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